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A recuperação continua

Folha de São Paulo


Na sexta (1º), o IBGE divulgou o resultado do desempenho da atividade econômica referente ao terceiro trimestre. O crescimento foi de 0,1% em comparação ao segundo trimestre.

Quando comparado com o terceiro trimestre de 2016, a alta foi de 1,4%. Desde o quarto trimestre de 2016, sempre comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento foi de, respectivamente, -2,5%, 0,0%, 0,4% e 1,4%. Ou seja, a retomada é sólida. Para o quarto trimestre, esperamos crescimento de 0,1% ante o terceiro e de 2,2% ante
o quarto trimestre de 2016.

Os números do terceiro trimestre nos fizeram revisar a estimativa de crescimento de 2017 de 0,9% para 1% e para 2018 de 2,5% para 2,7%.

Aparentemente, o crescimento da economia de 2017 para 2018 será bem brando. De 1% para 2,7%. Mas esse número é enganador. Em 2017, o crescimento da agropecuária será de 12%. Dado que ela representa 5% da economia, essa fortíssima recuperação do setor adicionará 0,6 ponto percentual na economia. Ou seja, o crescimento da economia em 2017 excluindo a agropecuária será de 0,4 ponto percentual.

Para 2018 prevemos que a agropecuária recuará 2%. Nada muito dramático, visto o excelente desempenho em 2017 e a natural volatilidade do setor. De toda forma, o avanço da economia excluindo a agropecuária, a confirmar a alta de 2,7% em 2018, será de 2,8%. Ou seja, nossos números preveem que a economia excluindo agropecuária acelere de 0,4% em 2017 para 2,8%. Nada mal.

É verdade que a recuperação tem ocorrido bem mais lentamente do que as recuperações cíclicas das últimas décadas. Por exemplo, em 2000, após o difícil ano de 1999, crescemos 4,3%. Em 2004, após o baixo crescimento de 2003, crescemos 5,7%. Finalmente, em 2010, crescemos 7,5%.

Dois fatores explicam recuperação cíclica tão branda. O primeiro é o impasse político que vivemos. Temos um brutal desequilíbrio fiscal cuja expressão aritmética é uma dívida pública como proporção da economia que cresce de forma  explosiva. Se nada for feito, caminharemos para inflação. E nada tem sido feito. Nosso Congresso nem aprova medidas que elevem os impostos nem reformas que reduzam o gasto. Vivemos um impasse.

O segundo motivo que explica a fraca recuperação é que no atual episódio a economia está muito machucada. Houve inúmeros investimentos em diversos setores -indústria naval, cadeia de óleo e gás, construção civil, indústria automobilística, etanol, setor elétrico, entre outros- que geraram endividamento das empresas sem capacidade de geração de caixa. Os investimentos foram malfeitos, e levará tempo para que sejam digeridos.

Assim, uma recuperação mais robusta da economia provavelmente dependerá do que ocorrer no processo eleitoral em 2018. Esperemos pelo melhor. Que vença alguém comprometido com a arrumação da casa fiscal e que simultaneamente tenha, de alguma forma, negociado com a sociedade essa arrumação.

Há um mês foi divulgada gravação feita há mais de ano em que o jornalista William Waack fala frase ofensiva e infeliz. Apesar dos eventuais excessos, o movimento politicamente correto nos civiliza.

A humanidade tem melhorado.

Waack já se desculpou e enfrentou sérias consequências, como o afastamento até agora das suas funções e o abalo da sua imagem pública. O que não faz sentido é ficarmos privados do trabalho e do talento de um dos jornalistas mais bem preparados  de sua geração. Todos perdem.

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Samuel Pessôa