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Em carta ao FMI, líderes da América Latina destacam papel fiscal na recuperação

Texto pede que países-membros reforcem o caixa do fundo e de outros organismos multilaterais

Uma carta de economistas e ex-chefes de Estado da América Latina divulgada durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) destaca o papel da política fiscal, não apenas na fase emergencial do combate à pandemia, mas também para promover estímulos para a posterior recuperação das economias da região.

O texto pede que os países-membros reforcem o caixa do FMI e de outros organismos multilaterais para ajudar as nações da América Latina a atravessarem um período que, se não abordado adequadamente, poderá levar a “um dos episódios mais trágicos da região”.

“Os governos terão que estimular a criação de empregos e a atividade econômica sem criar riscos à saúde pública”, afirma a carta. “As políticas diferirão entre os países, mas provavelmente serão necessários recursos fiscais extraordinários para uma recuperação efetiva.”

A iniciativa juntou economistas que queriam apontar ao conselho de diretores do FMI medidas que acham relevantes para a América Latina atravessar a crise e ex-presidentes de países como México, Chile e Colômbia que desejavam um posicionamento político na atual crise.

Do Brasil, assinam o texto o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn.

Eles alertam para a necessidade de esses custos fiscais – necessários para bancar o aumento da despesa fiscal para combater a pandemia e apoiar a recuperação das economias – serem compensados com ajustes nas despesas em áreas de baixa prioridade.

“Um compromisso por parte de nossos poderes Executivo e Legislativo de ajustar um maior déficit fiscal em um período razoável de tempo serviria para mitigar o risco de um rebaixamento de crédito que agora ameaça vários de nossos países”, sustenta a carta.

Também menciona o risco de uma “espiral contracionista”. Os países da região, segundo o texto, estão sendo afetados pela desorganização de sua estrutura produtiva, pela queda dos preços de produtos de exportação, perda da renda com turismo e redução de remessas unilaterais.

As economias da região estão sofrendo também uma histórica fuga de capitais estrangeiros, diz o documento. O aumento do déficit público para bancar a resposta à pandemia deverá levar a um maior desequilíbrio nas contas correntes dos países.

“A consequente depreciação das moedas de mercados emergentes poderá ser uma força desestabilizadora”, diz. “Para muitas economias da região, um apoio externo oficial substancialmente maior será a única maneira de lidar com essa combinação sem precedentes de choques adversos.”

Os signatários propõem um aumento da capacidade financeira do FMI em US$ 1 trilhão, com a emissão de Direitos Especiais de Saque (DES), que seriam subscritos pelos países membros além de dobrar de imediato os recursos disponíveis no chamado “New Arrangements to Borrow” (NAB).

A carta ainda afirma que, enquanto vários governos reagiram prontamente, fazendo da proteção à saúde pública seu principal objetivo, “outros tendem a minimizar os riscos da pandemia, desinformando os cidadãos e desconsiderando tanto evidências científicas quanto orientações de seus próprios especialistas”.

“Ao invés de mobilizar todos os recursos à sua disposição, alguns líderes optaram por adotar uma política populista e de divisão no meio dessa tragédia”, diz o texto.

Também assinam o documento os ex-presidentes Ricardo Lagos (Chile), Juan Manuel Santos (Colômbia), Ernesto Zedillo (México), Ponce de León, além de ex-ministros da Fazenda como Mauricio Cárdenas (Colômbia), José De Gregorio (Chile).

Por Alex Ribeiro

Fonte: Valor Econômico

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

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