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Inovação e o mercado acionário

A despeito das nossas crônicas dificuldades macroeconômicas, há no país um ambiente propício à inovação

VALOR

A despeito da pandemia da covid-19 e do consequente aumento da volatilidade macroeconômica, o mercado acionário brasileiro teve em 2020 um ano histórico, no que se refere ao número de operações realizadas, bem como no contingente de investidores. Foram 29 IPOs (ofertas primárias) e 24 follow-ons (ofertas subsequentes de ações), que levantaram cerca de R$ 120 bilhões. E mais, se pensarmos no futuro do mercado, o público investidor saltou de 1,7 para 3,2 milhões de pessoas físicas.

Tivemos operações nos mais variados setores, com destaque para Varejo (12), Imobiliário (8) e Financeiro (6). Um denominador comum, do ponto de vista do interesse dos investidores, é privilegiar companhias com trajetória de inovação, seja do ponto de vista do produto oferecido e/ou do canal de distribuição utilizado.

Foi nesse contexto que o Itaú BBA desenvolveu seu Índice de Inovação (IBBA-Inova). O objetivo é monitorar o comportamento das ações de empresas que utilizam tecnologia ou novas formas de atuar em segmentos tradicionais – não se trata, estritamente, de um índice de ações de empresas de tecnologia, ainda que exista alguma sobreposição.

Considerando uma base (100) em abril de 2017, o índice fechou novembro em 414,4 (186,7 para o IBX). Se considerarmos o valuation, a razão entre preços e lucros estava em 48,8 em novembro, ante 13,6 para o IBX. Não é impressão, o mercado está mesmo pagando um prêmio pela inovação.

O IBBA-Inova é composto por quinze ações, com peso igual, e será re-balanceado duas vezes por ano. Para ser incluída, uma ação deve estar no IBX, da B3 (para assegurar um mínimo de liquidez) e ter elevada correlação com nossa cesta global de inovação. Especificamente, a companhia será incluída se sua ação ficar entre as 15 maiores correlações com o comportamento dos fundos incluídos na cesta de inovação global, em termos relativos. Como o número de empresas está dado, para uma companhia entrar no índice, outra precisa sair. Vale notar que o IBBA utiliza correlações, em vez de avaliação discricionária, para remover o espaço para decisões subjetivas sobre inclusão ou exclusão de companhias. Na prática, isso significa deixar o mercado e os investidores determinarem quem deve estar no índice.

A cesta global de inovação, por sua vez, refere-se a ETFs, exchange traded funds, que sob vários aspectos, vêm capturando o processo de inovação. Especificamente, consideramos os seguintes fundos: NYFANG, que foca em empresas de tecnologia americanas, SOCL, com ênfase em mídias sociais, FINX, sobre fintechs, IXN, voltado para empresas globais de tecnologia e XT, que considera empresas de tecnologia de crescimento exponencial.

O índice foi construído a partir de dois princípios básicos, praticidade e clareza. Praticidade implica que o IBBA-Inova deverá constituir uma referência confiável para os investidores, permitindo que estes possam investir passivamente, por meio de fundos que acompanhem o índice, em empresas inovadoras. Clareza e transparência são fundamentais para que os investidores que estejam monitorando o índice possam projetar inclusões/exclusões e, assim, se prepararem para os rebalanceamentos.

Com o IBBA-Inova, os investidores brasileiros terão como participar de forma mais fácil e intensa no crescimento de diversas empresas inovadoras que têm tido ou apresentam potencial de forte valorização nos próximos anos. A despeito das nossas crônicas dificuldades macroeconômicas, em especial, mas não exclusivamente associadas a um Estado grande e ineficiente, existe no país um ambiente propício à inovação.

O tamanho de mercado, efetivo e potencial, permite crescimento acelerado em certos segmentos. Os brasileiros, como demonstram as estatísticas sobre evolução e engajamento das mídias sociais, têm agilidade na adoção de novas tecnologias. Mais de dois terços da população têm acesso a “smartphones” e à internet. A existência de um ecossistema de inovação, com incubadoras, como o Cubo, patrocinado pelo Itaú, também contribui.

Vale notar, adicionalmente, que fundos internacionais de venture capital têm presença no país há anos, e vem atuando nesse segmento, com o objetivo de descobrir ideias e empresas promissoras. Outro aspecto interessante, é que empresas em atividades tradicionais, por vezes com experiência de décadas, também têm conseguido se destacar pela inovação, e isto está representado na composição do IBBA-Inova – inovação pode, sob certas circunstâncias, ocorrer dentro de empresas estabelecidas, na medida em que estas tiverem disposição para sacrificar parte do seu legado em prol do crescimento.

Claramente, o apetite dos investidores por maior exposição às ações de empresas inovadoras é condicionado pelo custo de oportunidade. Caso o país abandone a responsabilidade fiscal, provavelmente veremos de volta o ambiente de taxas de juros elevadas que prevaleceu nas últimas décadas. Nesse contexto, os investidores voltariam a focar prioritariamente no financiamento do Tesouro. Enquanto isso não ocorrer, idealmente por muito tempo, o IBBA-Inova vai ajudar os investidores, de todos os portes, a capturar parte do prêmio à inovação.

Link da publicação: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/inovacao-e-o-mercado-acionario.ghtml

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Sobre o autor

Mario Magalhães Carvalho Mesquita