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‘É preciso ter um momento de tolerância’, diz economista

Para Affonso Celso Pastore, crise do País levou a um debate ideológico muito acirrado

Em 2013, percebendo os rumos da economia, Marcos Lisboa, presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), disse ter medo de que o Brasil pudesse ter uma nova década perdida. “Agora, tenho medo de que possa ser mais do que uma década. Teses estapafúrdias estragaram a microeconomia e a macroeconomia e vamos precisar de anos para arrumá-las.”

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Pastore (no centro, na primeira fileira), que faz 80 anos, recebe economistas para debater a economia do País. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADAO

O ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Delfim Netto concorda que a situação do País é preocupante, mas diz que é importante que os economistas mantenham um diálogo permanente com a sociedade, sobretudo em um momento de forte embate ideológico. “Essa discussão pretensamente ideológica que domina o debate nacional hoje é simplesmente um disfarce para a falta de conhecimento”, avalia.

 Eles foram alguns dos convidados de um seminário promovido ontem pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), em homenagem ao também economista Affonso Celso Pastore, que completa 80 anos este mês.

“Para as pessoas que hoje estão envolvidas em um debate ideológico muito acirrado, é preciso ter um momento de tolerância, de reconhecimento de erros”, diz Pastore.

“O País está em uma crise de crescimento econômico, em que a renda per capita está 8% abaixo de onde ela estava antes de começar a recessão, há cinco anos. A resolução desse problema é o que deve nos unir”, afirmou o homenageado.

Trajetória

Pastore, que é colunista do Estado, foi presidente do Banco Central entre 1983 e 1985, no fim do regime militar. Na instituição, ele teve de enfrentar a crise da dívida externa do Brasil. “Eu não carreguei esse piano sozinho. O Banco Central trabalhou em conjunto com o ministro Ernane Galvêas, da Fazenda, e Delfim, no Planejamento, que foi meu professor e me levou com um grupo de ex-alunos para Brasília alguns anos antes, quando foi escolhido para pilotar a economia do País.”

Ao Estado, ele disse que a economia sempre o atraiu e que nunca pensou em seguir uma outra carreira. Nos anos 60, diz, tinha optado por estudar como o aprimoramento da agricultura poderia contribuir para o desenvolvimento econômico do País. “Hoje, dá orgulho de ver como nos tornamos uma referência no campo e como o investimento em educação e pesquisa são importantes”, afirmou Pastore.

“O esforço empírico, baseado em observação e experiência, é uma das principais características de Pastore”, diz José Júlio Senna, professor da Fundação Getulio Vargas e diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central. “Sua passagem pelo BC é um marco em 80 anos muito frutíferos e suas contribuições têm sido de grande importância, sobretudo nos anos da recessão recente e neste momento de rumos ainda por definir.”

“Ele é uma pessoa de coragem e de coerência demonstrados ao longo de décadas, o que não é fácil”, resume Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil e sócio-fundador da Gávea Investimentos. “Ele consegue unir a honestidade intelectual ao rigor, sem ser dogmático. Isso foi importante no Banco Central e é muito importante agora.”

Para o também ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn, a crise enfrentada por Pastore no Banco Central deixou lições sobre responsabilidade que valem até hoje. “Ainda há muito por fazer, mas a situação do País é muito diferente. As reservas internacionais que o Brasil conseguiu fazer, por exemplo, são um seguro que permitem que os ajustes e reformas necessários de forma mais acertada.”

Formado em economia pela Universidade de São Paulo, onde obteve seu doutorado, Pastore também deu aulas na Fundação Getulio Vargas (FGV) e no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibemec). Hoje atua como consultor da A.C. Pastore e Associados.

Fonte: Estado de S. Paulo

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