Resumos

The Global Economy and Inequalities

Palestrante: Joseph Stiglitz

Nota: O debate se concentrou ao redor do tema da desigualdade de renda. A apresentação do prof. Stiglitz procurou mostrar o crescimento da desigualdade nos últimos 30 anos. Em seguida apresentou suas hipóteses a respeito das causas deste aumento, e quais estão sendo as consequências deste processo na economia mundial.  Na conversa com os presentes, foram apresentadas questões a respeito de suas hipóteses e discutidas possíveis políticas para reverter o processo de crescimento da desigualdade de renda no mundo.

Resumo: A ideia principal que o prof. Stiglitz tentou transimtir em sua apresentação é a de que o aumento da desigualdade de renda observada empiricamente nos últimos 30 anos foi consequência de políticas econômicas que favoreceram a concentração de renda no topo da distribuição. Ao mesmo tempo, ele reforça que este processo é reversível transformando a estrutura das instituições econômicas.

  • Evolução da Desigualdade de Renda
    • Embora se concentre na análise da desigualdade de renda, o prof. Stiglitz destaca a natureza multidimensional da desigualdade. Segundo o economista, ela pode se apresentar na forma de acesso à justiça, saúde, educação e especialmente riqueza. As estimativas indicam que a desigualdade de riqueza é ainda maior do que a de renda.
    • Para Stiglitz, o debate sobre desigualdade de renda vem ganhando destaque por conta do tamanho que ela atingiu.
      • Os dados mostram que nos últimos 30 anos que quase todos os países da OCDE vivenciaram um aumento na desigualdade de renda.
      • Este aumento teria sido causado pelo grande crescimento de riqueza do 1% ou até mesmo 0,1% da distribuição de renda. Nos EUA, o percentual da riqueza total do país concentrada nas mãos dos 1% mais ricos cresceu de aproximadamente 25% em 1980 para quase 45% em 2013.
      • A relação entre os salários dos CEOs das empresas e um funcionário médio que era de 30 para 1, agora é de 300 para 1.
      • Enquanto isso, o salário real na mediana da distribuição de renda está estagnado desde 1975 e o nível do salário mínimo real é o mesmo que em 1955.
    • Não surpreendentemente, o alto nível de desigualdade de renda está muito correlacionado com a não igualdade de oportunidades, medida com taxas de mobilidade intergeracional entre faixas de renda.
  • Causas do crescimento da desigualdade nos EUA
    • Stiglitz defende que o aumento da desigualdade de renda foi provocado pelas políticas de desregulamentação econômica iniciadas na década de 1980. Entre os fatores apontados como os principais no aumento da desigualdade de renda estão:
      • A redução dos impostos aos mais ricos na década de 1980.
      • A diminuição do poder de barganha dos trabalhadores, causada especialmente pela redução da importância dos sindicatos.
      • E como consequência disso, o descolamento entre a produtividade média e os salários dos trabalhadores. Enquanto a produtividade continuou crescendo nos últimos 30 anos, os salários reais ficaram estagnados.
    • Importância do aspecto político.
      • Para o prof. Stiglitz, parte fundamental das decisões econômicas são movidas por conta de aspectos políticos, atrelados ao financiamento privado de campanhas.
      • Isso também explica porque não são tomadas medidas para reverter o processo de aumento de desigualdade nos EUA.
    • Cenário global
      • Quando se observa a evolução da renda dos indivíduos do mundo inteiro, percebe-se uma dinâmica diferente daquela dos países desenvolvidos.
      • Nos últimos 20 anos, os percentis do meio da distribuição foram os que apresentaram maior crescimento relativo.
        • Isso se deu por conta do grande crescimento dos países em desenvolvimento, como Índia, China e o próprio Brasil.
      • A única faixa de renda que se equipara ao nível de crescimento destes países são os 1% mais ricos do mundo.
        • Aqueles no 80º percentil da distribuição, faixa que representa a classe média norte americana, esteve completamente estagnado no período.
      • América Latina – exceção às tendências
        • Países da América Latina apresentaram nos últimos anos considerável queda na desigualdade de renda. Mesmo assim, ela continua em níveis excepcionalmente altos.
        • Para o prof. Stiglitz, a redução da desigualdade nos países da América Latina se deu por conta de políticas como:
          • Programas de transferência de renda
          • Aumentos nos gastos em áreas sociais, como educação.
            • No Brasil por exemplo, o gasto total com educação saltou de 4% para 6,5% do PIB entre 2004 e 2012.
          • Melhorias nos mercados de trabalho, entre elas maior formalização e redução nas taxas de desemprego.

 Consequências do aumento da desigualdade

    • Economias com maior desigualdade crescem menos por conta da redução na demanda agregada. Pessoas mais ricas consomem parte menor da sua renda que os mais pobres.
    • Grande impacto em fatores como violência e descrédito da população à democracia.
    • Tensões sociais como as que vêm acontecendo nos EUA. ( casos de Baltimore por exemplo, onde as desigualdades econômicas fortalecem as divergências raciais)
    • Acabou com algumas ideias comuns a respeito do tema como:
      • “Trickle-down economics”. Muito citada na década de 1980 para justificar a redução dos impostos dos mais ricos, essa era a ideia de que se os mais ricos crescerem, todos se beneficiariam disso.
      • Curva de Kusznets, que dizia que o desenvolvimento do capitalismo com a transição demográifca para as cidades iria progressivamente reduzir as desigualdades.
      • Lei de Okun, que estabelecia um trade-off entre crescimento e redução de desigualdades. O FMI recentemente adotou a ideia de que maior desigualdade implica em menor crescimento e vem recomendando políticas de redução de desigualdade econômica.
    • Divergências com Thomas Piketty.
      • Em sua apresentação, o prof. Stiglitz destacou as diferenças de sua interpretação com relação à de Thomas Piketty, que recentemente ocupou espaço de destaque no debate sobre desigualdade.
      • Resumidamente, Piketty afirma que o aumento da desigualdade de renda é natural ao capitalismo, pois os rendimentos do capital superam o crescimento econômico, concentrando a renda nas mãos daqueles que detêm o capital.
        • A crítica de Stiglitz se dá ao fato de que, ao contrário do que Piketty considera, crescimento de riqueza e de capital são diferentes.
        • As taxas de crescimento observadas se dão não por conta do capital produtivo, mas por dois fatores. Aumentos no valor da terra (especialmente urbana) e ganhos monopolíticos, provocados muito por conta de poder político.
        • De acordo com Stiglitz, se observarmos apenas o capital produtivo, seu rendimento não é maior do que o crescimento econômico.
      • Isso trás grandes consequências políticas, pois a desigualdade não seria intrínseca ao capitalismo. Ela seria consequência de políticas econômicas, e portanto, passível de mudança.
    • Conclusões da apresentação
      • A redução da desigualdade é uma agenda urgente no esforço de trazer a economia mundial de volta para uma situação saudável.
      • Uma economia que não melhora a vida da maioria de seus indivíduos não pode ser considerada bem sucedida, mesmo que apresente crescimento do PIB.
      • A chave é reescrever a estrutura institucional.
        • Da mesma forma que o aumento da desigualdade foi consequência de políticas econômica ele pode ser revertido mudando as regras do jogo.
      • E a grande questão não é econômica, e sim política. Deve-se juntar forças para contrariar o interesse dos 1% mais ricos que dominam o jogo político.

 Discussão:

  • A discussão se concentrou nas causas do aumento da desigualdade, e principalmente nas medidas que podem ser feitas para reverter este processo, incluindo as questões políticas que permeiam o debate.
  • Sobre as causas do aumento da desigualdade de renda, foram levantados dois contrapontos que não foram citados por Stiglitz.
    • O primeiro se refere à tecnologia. Em que medida o aumento da desigualdade de renda não foi causada por conta do crescimento tecnológico, que ao mesmo tempo beneficiou muito a qualidade de vida da população.
    • Relacionado a esse aspecto, o segundo ponto se refere à globalização. O aumento da desigualdade nos países desenvolvidos não teria sido por conta do crescimento da renda do trabalho nos países em desenvolvimento?
      • Stiglitz admite a relevância destes dois pontos no aumento da desigualdade de renda, mas não os vê como fatores determinantes do processo.
    • Sobre o crescimento tecnológico, Stiglitz o interpreta como um processo que favoreceu os trabalhadores com alta produtividade. Mas ele cita que mesmo assim os trabalhadores mais produtivos estão com salários estagnados nos últimos 15 anos nos EUA. Basicamente ele afirma que todos os trabalhadores estagnaram, excluindo os 1% mais ricos. Se desconsiderarmos essa faixa, a participação do restante da massa sobre os rendimentos totais do trabalho caiu de 80% para 60%.
    • Já a respeito da globalização, Stiglitz afirma que de fato ela teve papel na redução no rendimento dos trabalhadores menos qualificados em países desenvolvidos. Mas ela não pode ser o fator determinante pois países extremamente abertos como os escandinavos, não observaram grande evolução de desigualdade de renda nos últimos anos. Além disso, a globalização não melhorou a vida dos extremamente pobres nos países em desenvolvimento. Sob essa perspectiva, seria mais a forma como cada país lidou com a globalização que determinou os efeitos dela sobre a desigualdade.
  • Sobre as medidas para diminuir a desigualdade de renda.
    • Demandado pelos presentes, o prof. Stiglitz comentou a respeito de medidas possíveis, com bastante foco nas políticas que ele julga necessárias para os EUA:
      • Transformações na governança coorporativa.
      • Bônus em ações para os CEOs acabam gerando uma preocupação de curto prazo em valorizar os preços das ações ao invés de proporcionar crescimentos de longo prazo.
        • Stiglitz cita que no Japão por exemplo, não se vê sentido em dar bônus em ações.
        • No entanto isso acontece nos EUA porque esse tipo de pagamento é menos taxado. Ao mesmo tempo, os CEOS não aceitam que os acionistas coloquem tetos nos seus rendimentos.
      • Aumento nos impostos sobre herança.
        • Durante o governo Bush, os EUA chegaram a abolir o imposto sobre heranças durante um ano.
      • Embora possua um sistema tributário relativamente progressivo, os EUA não distribuem renda da mesma forma que países com desigualdades de mesma dimensão no mercado de trabalho.
        • Exemplo é a Alemanha, que possui desigualdade nos rendimentos do trabalho semelhante à dos EUA, mas faz um bom trabalho em redistribuir a renda dos impostos.
      • Sobre as questões políticas nos EUA.
        • Se o aumento da desigualdade nos EUA de fato foi causado por decisões de política econômica, como e por que os norte americanos votaram por isso?
          • Para Stiglitz, o pricipal fator é a desregulamentação das doações de campanha.
            • Ele cita a ideia de que nos EUA existe um sistema de “One dollar, one vote” onde o financiamento de campanha tem grande importância nas eleições.
            • Por tabela, uma vez eleitas, as pessoas irão defender aqueles que os financiaram para chegar lá.
          • Stiglitz afirmou acreditar em uma mudança na mentalidade a respeito da desigualdade de renda nos EUA.
          • Prova disso é que até mesmo os candidatos republicanos estão demonstrando interesse no assunto.
        • O prof. Stiglitz acredita que apenas com movimentos da sociedade civil, será possível exercer pressões para transformar as instituições americanas. 
  • Nas considerações finais, Stiglitz ressaltou que não se deve ficar obcedado por crescimento do PIB. Uma economia bem sucedida é aquela que proporciona bem estar para a maioria de sua população.

Resumo e Nota preparados por: Roberto Hsu Rocha

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