Valor Econômico
As principais economias de mercado da América do Sul começaram o ano em ritmo de crescimento, impulsionadas pelo ambiente internacional ainda benigno, a despeito do aumento da volatilidade de certos preços de ativos. Alguns aspectos, como o avanço da economia chinesa e o comportamento dos preços de matérias-primas, influenciam as economias da região de forma similar.
No entanto, fatores idiossincráticos adquiriram maior relevância desde o início do ano, o que tende a injetar maior heterogeneidade no desempenho econômico de cada país.
A economia peruana, que tem exibido taxas de crescimento mais elevadas do que a média regional, deve manter a liderança neste ano, com crescimento de 4%, em linha com o PIB mundial, ante 2,5% em 2017, apesar da crise política recente. Essa aceleração deve ocorrer na esteira de estímulos de política econômica e de um comportamento favorável dos preços de metais, numa economia que tem na mineração seu setor mais dinâmico.
No caso da Colômbia, a incerteza sobre o resultado da eleição presidencial, com primeiro turno em maio, pode estar começando a influenciar decisões de investimento, tolhendo a recuperação da economia, que deve crescer 2,5% no ano, abaixo da média regional, segundo os economistas do Itaú. Se a política pode apresentar riscos, a queda da inflação abre perspectiva para alguma descompressão monetária adicional ainda neste semestre, o que tende a ajudar a retomada da economia na segunda metade do ano e em 2019.
No Chile, as eleições fecharam 2017 , e o início de ano tem sido marcado pela transição para o segundo mandato de Sebastián Piñera. A nova equipe econômica, liderada por Felipe Larraín, que já havia ocupado o posto antes, tem muita experiência e viés fortemente pró-mercado. A chegada do novo governo tem favorecido a confiança do empresariado e dos consumidores, ajudando a acelerar a retomada econômica – com isso, o crescimento deve chegar a 3,6% no ano, ante uma expectativa anterior de 3,3% e de 1,6% em 2017 . O desafio para o governo Piñera será compatibilizar a demanda por aumento de gastos sociais com a manutenção da responsabilidade fiscal característica do Chile e uma carga tributária moderada.
A Argentina, por sua vez, apresenta um quadro mais delicado e vive uma conjuntura desafiadora. A atividade desacelerou no fim de 2017 e tem sido afetada de forma severa pela seca que aflige o país. Ainda que a recuperação brasileira ajude a economia argentina, em especial o setor industrial, a seca afeta o agronegócio, que tem papel bastante relevante no país vizinho. Assim, a economia deve crescer 2,8% no ano, ante uma perspectiva anterior de 3,5%. Em contraste com os demais países da região, a inflação na Argentina segue muito alta, atingindo quase 25% em 2017 e devendo permanecer em 20% este ano.
A decisão do governo de elevar as metas de inflação, no fim do ano passado, prejudicou o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias (no início da temporada de renegociações salariais) e abriu menos espaço para flexibilização monetária do que, aparentemente, esperava parte do governo.
Desse modo, a taxa de política monetária deve continuar em 27,25% ao ano por alguns meses. Nem esse patamar de taxa de juros tem sido suficiente para evitar que o peso argentino, diante do déficit em conta corrente que supera 5% do PIB, sofra pressão recorrente no mercado cambial – motivando, inclusive, intervenção do Banco Central, que vendeu reservas.
No Brasil, esperamos crescimento de 3%, em aceleração frente à expansão de 1% registrada em 2017, em razão dos efeitos defasados dos cortes de taxa de juros, do ambiente externo ainda benigno e da incipiente recuperação do mercado de trabalho. A inflação tende a subir em relação ao patamar inferior a 3% observado no ano passado, basicamente como resultado do fim do processo de deflação de preços de alimentos, e não da elevação de medidas subjacentes, e apenas para 3,5%.
Como a economia apresenta ainda ampla subutilização de fatores produtivos, em especial no mercado de trabalho, e a taxa de câmbio tende a ter movimentos contidos, exceto talvez se aumentarem as dúvidas sobre a continuidade do ajuste fiscal a partir de 2019, a inflação deve seguir em nível historicamente baixo neste ano e provavelmente também no próximo.
Com a recuperação da economia e, consequentemente, das importações e remessas de lucro, o déficit em conta corrente tende a aumentar, para cerca de 1,5% do PIB, ainda bem abaixo da faixa de 3%, que costuma sinalizar aumento da vulnerabilidade externa – cabe lembrar que o déficit excedeu 4% do PIB no fim de 2014.
Considerando-se apenas os saldos em conta corrente, a vulnerabilidade externa, por exemplo, a um cenário de aperto monetário mais rápido e intenso nos EUA, parece ser mais acentuada na Argentina e Colômbia do que no Brasil, Chile ou Peru. Como, além disso, a Colômbia tem um cenário eleitoral ainda incerto, vale monitorar essa economia com especial atenção nos próximos meses, principalmente se o banco central americano se mostrar mais agressivo.
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