Palestrante: Carlos Viana de Carvalho, Diretor de Política Econômica do Banco Central do Brasil
Parte 1 – Resumo da apresentação
Como explicar a queda constante das taxas de juros globais há pelo menos três décadas (veja gráficos abaixo)? Quais os mecanismos responsáveis por tal fenômeno? As respostas para essas questões não trazem certezas, apenas hipóteses – mas elas não são menos do que intrigantes. Em apresentação no CDPP, em 29 de maio, Carlos Viana de Carvalho, diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), expôs um conjunto de análises sobre o tema, com destaque para aquelas que têm recebido maior ênfase na literatura acadêmica. No geral, esses trabalhos apresentam um fator em comum. Como a tendência de queda – e convergência – das taxas é constante, os estudos de maior repercussão têm se concentrado em fatores estruturais em detrimento de aspectos cíclicos que atuam sobre a economia. Atualmente, destacam-se pelo menos cinco frentes de pesquisa nesse campo.
Gráfico 1
Gráfico 2
O “Gráfico 1” mostra a tendência de queda das taxas de juros de dez anos de quatro países. O “Gráfico 2” indica a estimativa de Holston, Laubach e Williams para as taxas neutras em termos reais na área do euro, USA, Canadá e UK, também em queda.
- Há um grupo de observadores, encabeçado por economistas como Thomas Laubach (FED) e John C. Williams (NY FED), que atribui a redução das taxas à queda da produtividade. Nesse caso, a lógica é a seguinte: o indivíduo tem uma expectativa de quanto vai ganhar ano a ano em seu ciclo de vida. Assim, ele decide se vai consumir agora ou nos anos futuros. Se ocorre uma queda na produtividade cai o fluxo esperado de renda. Nesse caso, a tendência é que aumente a poupança dos indivíduos. Com mais poupança, a taxa neutra de juros tende a cair.
- Outra linha de estudos traça uma relação entre ativos de baixo risco e as taxas de juros baixas. Ela inclui pesquisadores como Ricardo Caballero, Emmanuel Farhi e Pierre-Olivier Gourinchas. O truque por trás desse argumento é o seguinte: quanto maior o preço pago por ativos de baixo risco (como títulos públicos), menor é a taxa de juros. Assim, se diminuiu a oferta desses títulos, seu preço se eleva e as taxas caem.
- Uma terceira frente de análises aponta que as taxas de juros caíram por conta de uma redução no preço relativo do investimento em relação aos bens de consumo. Isso teria acontecido a partir de vários fatores, entre eles, a tecnológica. Em suma, esses elementos fizeram com que o investimento barateasse. As sociedades acumularam mais capital. O barateamento do capital estaria na base na redução da taxa neutra.
- Um quarto ponto discutido é a relação entre desigualdade e a taxa neutra de juros. Aqui, a explicação é bastante simples. Se há um aumento da desigualdade, a renda concentra-se nas camadas mais ricas da população. Os ricos, por sua vez, têm uma propensão maior a poupar, já que consomem menos em proporção às suas rendas. Sendo assim, o aumento da desigualdade eleva a poupança, o que pressiona a taxa neutra para baixo.
- A transição demográfica foi o quinto ponto abordado. Aqui, dois fatores atuam em conjunto: o aumento do número de idosos (com o avanço das condições de saúde) e a redução da taxa de fertilidade provocam uma queda da proporção de jovens na população. O jovem sabe que vai viver mais tempo depois que parar de trabalhar e, nesse caso, terá de poupar mais. Com o aumento da poupança, as taxas de juros caem. A relevância desse elemento depende de uma série de fatores institucionais, como os incentivos para que as pessoas ajustem seu padrão de consumo a essa maior expectativa de vida. Isso depende, por exemplo, do grau de generosidade dos sistemas de pensão.
Parte 2 – Principais temas em debate após a apresentação
- Chegamos ao “novo normal” das taxas no mundo?
- Implicações das taxas de juros baixas para a política monetária
- Como contornar o problema das taxas de juros persistentemente baixas?
- O que muda a partir de agora levando em conta o fator demografia?
- Os desafios do Brasil, que passa por uma transição demográfica, nesse contexto.
- Fatores conjunturais e estruturais na explicação do fenômeno
Por Carlos Rydlewski