Em live promovida pela XP, o fundador da Verde explicou por que está investindo em ações no Brasil e nos Estados Unidos
SÃO PAULO – A injeção sem precedentes de liquidez nas economias para suavizar o impacto da pandemia do coronavírus pode, no longo prazo, levar a uma perda no valor do dinheiro.
Para Luis Stuhlberger, gestor do Verde, um dos fundos multimercado mais longevos e rentáveis do país, é possível que, no futuro, o mundo viva um “grande plano Collor”.
De toda forma, para se proteger desse risco, o gestor acredita que a melhor estratégia seja construir um portfólio com ações de empresas de alta qualidade, com capacidade para atravessar crises e eventos disruptivos com maior resiliência que a média do mercado.
E atualmente, em meio à crise provocada pelo coronavírus, a Bolsa americana é uma boa alternativa.
O governo dos Estados Unidos irá injetar cerca de US$ 1,4 trilhão na economia no enfrentamento à pandemia, seja na compra de títulos corporativos pelo Federal Reserve (banco central do país) ou via auxilio direto para os desempregados.
“A escala dos estímulos é absolutamente sem precedentes”, afirmou o gestor numa live promovida pela XP Investimentos neste sábado (assista aqui).
O estímulo cavalar foi citado pelo gestor ao justificar seu otimismo com o desempenho do S&P 500. “A recuperação da economia americana nos períodos pós-crise em geral tem sempre sido melhor do que se imagina”, disse o gestor.
O próprio Stuhlberger reconheceu que, após ter se recuperado nas últimas semanas, o S&P 500 no nível atual, com uma queda acumulada no ano de aproximadamente 11%, pode já não parecer tão barato, especialmente em meio às incertezas que cercam a pandemia e as medidas de combate a ela.
“A questão é que, quando tivemos uma visibilidade melhor do cenário, os preços não serão esses.”
Durante sua apresentação, o gestor apresentou uma série de dados indicando que as empresas americanas foram as que registraram os maiores níveis de retomada após a crise de 2008 em comparação com companhias de outros países.
Para ele, não deve ser diferente dessa vez. “Uma transformação digital está sendo tremendamente acelerada por conta da crise, e isso passa pelas grandes empresas de tecnologia americanas”, afirmou.
Em relação ao dólar, o fundador da Verde afirmou que os modelos indicam que o patamar justo do câmbio seria algo ao redor de R$ 4,65.
A forte e veloz queda da Selic é o que, na avaliação de Stuhlberger, tem provocado o desequilíbrio atual.
Ações no Brasil
Segundo Luiz Parreiras, gestor dos fundos multimercado da Verde que também participou da live, a correção sofrida pelo mercado acionário brasileiro permitiu que a gestora comprasse a preços muito atraentes ações de empresas “de altíssima qualidade, que já passaram por inúmeras crises e vão passar por várias pela frente”.
Parreiras citou a Localiza como uma empresa que vinha sendo acompanhada há algum tempo pela casa, e que até então não estava no portfólio por estar cara, mas que agora passou a estar.
Também fazem parte da carteira de ações da asset companhias como Mercado Livre, Magazine Luiza, BR Distribuidora e Equatorial. Empresas do ramo de saúde como Intermédica, Hapvida e Sul América também constam na carteira do fundo.
“Diria que continuo otimista, porque, se não estivesse, teria menos posições na Bolsa local do que tenho”, disse Stuhlberger.
Parreiras afirmou ainda que a carteira de ações da Verde está menos defensiva do que já esteve até pouco tempo atrás. “As empresas podem perder lucro em seis meses ou um ano, mas o valor delas está no longo prazo.”
O problema fiscal do país, e como o governo e o Congresso vão lidar com ele passada a crise, além da falta de convergência entre os Poderes, foram citados por Stuhlberger durante sua fala sobre a Bolsa brasileira, sinalizando os principais riscos em seu radar para o mercado local.
Erros e lições na crise
Stuhlberger lembrou que, quando a crise do coronavírus chegou ao mercado brasileiro, logo depois do carnaval, pegou a Verde com uma carteira de investimentos otimista em relação ao Brasil, com cerca de 30% da carteira na Bolsa local.
“Não acho que estava errado”, afirmou. “A Bolsa não estava barata, mas havia expectativa de crescimento, fizemos reformas importantes, com inflação e juros baixos.”
A primeira leitura do time da asset em relação aos riscos trazidos pelo coronavírus se mostrou errada, reconheceu o gestor. A hipotética vantagem que o Brasil teria pelo clima tropical se mostrou bem menos eficiente do que os prognósticos apontavam inicialmente, assim como a própria velocidade e abrangência na propagação do vírus.
“Tendências econômicas são lentas, e de certa forma previsíveis”, afirmou o gestor, citando posicionamentos que se mostraram acertados da asset antes da eclosão de crises na virada dos anos 2000.
“Essa [crise do coronavírus] não era previsível, e assim como em 2008 entramos de forma errada, o que nos obrigou a uma introspecção para lidar com a adversidade.”
Ao encerrar sua apresentação, Stuhlberger procurou deixar uma mensagem positiva aos investidores. “Não há crise que nunca acabe”, afirmou o gestor, que acrescentou se sentir privilegiado por ter tido contato próximo com duas pessoas que se infectaram com o coronavírus e ter escapado ileso.
“A única coisa que destrói é a guerra”, disse ele. Questionado se não estamos em guerra, Stuhlberger afirmou que o mundo inteiro está unido em uma guerra contra o coronavírus, e não com países brigando entre si.
“Essa união me dá certo otimismo que isso vai acabar algum dia.”
O gestor disse também que não gostaria de estar na pele de governantes que precisam decidir entre priorizar a economia ou a saúde neste momento. “Trata-se literalmente de uma escolha de Sofia, são decisões duras, e não há lado certo ou errado.”
Fonte: Infomoney
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