O pagamento de mais impostos será necessário para suportar o aumento dos gastos pós-crise
Famílias e empresas devem ter de pagar mais impostos para suportar o aumento dos gastos pós-crise, e isso deve ter consequências políticas para o mundo todo, afirmou nesta terça-feira (30) Martin Wolf, colunista do jornal “Financial Times, em webinar promovido pela Fundação Fernando Henrique e pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Diante de condições fiscais mais apertadas e menor crescimento global, haverá maior intervencionismo político no mundo desenvolvido, afirmou Wolf, em webinar com o ex-presidente do Banco Central Ilan Goldfajn e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. “Essa será a grande briga dos próximos dez anos no mundo desenvolvido. Se a maior alternativa for o nacionalismo, não parece ser muito atraente. Se o futuro do Ocidente for eleger populistas , então é ‘game over’.”
Segundo Wolf, diante de problemas sociais, baixo crescimento alto nível de endividamento trazidos pela pandemia, governos centristas de direita e de esquerda terão de aumentar os gastos. “Meu palpite é que teremos aumento do gasto de 5% em relação ao PIB, o que levará o Reino Unido ao nível de países mais prósperos como Holanda e Alemanha”, disse. “Para isso, pessoas como eu pagarão mais impostos e empresas também. E isso ocorrerá também nos Estados Unidos. O corte de impostos [ promovido por Donald Trump], que é ridículo e insustentável do meu ponto de vista, terá de ser revertido.”
Wolf lembrou que a pandemia ainda traz muita incerteza e que a alta de novos casos em Estados americanos terá impactos na economia. Disse que a recuperação da economia será lenta, taxas de juros ficarão baixas e que países desenvolvidos terão de tomar empréstimos. Ele prevê, no entanto, que o dólar não será substituído tão cedo.
Mudanças são aceleradas
A pandemia, afirmou, está dividindo o mundo em termos de países, gerações e diferentes níveis de formação e acelerou mudanças que já estavam em curso, como a desglobalização e políticas para mitigar efeitos da mudança climática. Como consequência, a crise da covid-19 afetará o emprego, o que demandará políticas fiscais, e deixará o setor de serviços mais integrado, mas não o de bens.
OMC
Questionado sobre o futuro da Organização Mundial do Comércio (OMC), Wolf disse que a organização está praticamente morta, sem órgão de apelação funcionando propriamente e depois de várias ações dos EUA para tornar suas regras sem efeito. “Até onde vejo, não há chance de liberalização séria que fazem a OMC ser significante”, disse. “Se houver algum futuro possível para a organização, este será relativamente limitado.”
Para Wolf, a crise atual é a mais severa desde a Segunda Guerra Mundial, e a maneira como a pandemia está sendo administrada na América do Sul afetará como investidores veem a região. “Minha percepção é que a visão geral dos setores financeiros sobre mercados emergentes é oportunista. Não querem estar expostos, querem diversificar riscos”, acrescentou.
Ele afirmou ainda que a relação EUA-China moldará o mundo geopoliticamente por muito tempo e que o Brasil tem a vantagem de não ter de escolher um lado na disputa entre as duas maiores economias do mundo.
Fonte: Valor Econômico, por Marsílea Gombata
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