Pedro Passos afirma que gestão do governo na área reduz preço do produto brasileiro
Para Pedro Passos, cofundador da Natura e copresidente do conselho de administração da empresa, a política ambiental do governo Jair Bolsonaro tira do país o protagonismo que sempre teve no setor e reduz o valor dos produtos brasileiros.
Como as empresas se uniram para enviar uma carta para Hamilton Mourão?
Estávamos preocupados com a atual política ambiental. Além do estrago do ambiente, há um estrago na imagem e na marca Brasil de uma maneira muito clara. Com essa política ambiental, o Brasil está perdendo o protagonismo que sempre teve na área e a importância que tinha em todos os fóruns que tratam sobre esse tema.
Também estamos perdendo valor nos nossos produtos. Todo o setor econômico está preocupado. Estamos na iminência de perder um acordo com a União Europeia em razão de uma má política ambiental. É um estrago sem dimensões.
A situação ambiental brasileira é muito preocupante?
Em 2002, havia um desmatamento forte, que foi fonte de preocupação e de manifestação do exterior. Aí o Brasil conseguiu reverter isso e vinha em uma posição vencedora. Nos últimos três ou quatro anos, no entanto, esse avanço começou a reverter, e o desmatamento ficou mais evidente a partir da queimadas em 2019.
Houve também as manifestações tentando negar evidências científicas. O governo chegou a dizer que os dados do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sistema governamental que mede a derrubada de floresta] não eram confiáveis. A partir dessa postura, que negou a evidência científica, somada a outras como a ameaça de deixar o acordo ambiental de países, agravou-se a posição do Brasil com relação a sua preocupação ambiental. Isso hoje ganhou uma proporção que vai tomar tempo e legislação ambiental para reverter.
Como o sr. sentiu esse aumento de proporção?
A gente sente isso quando conversa com investidores. Sempre há a preocupação com a segurança jurídica, agora agravada com a situação ambiental.
Qual a principal reclamação sobre a postura do Brasil?
Os fundos têm medo de investir em empresas ou projetos que amanhã sejam acusados de terem riscos ambientais ou estarem causando danos ambientais.
Como mudar essa imagem?
Precisamos agregar valor e reinventar o modelo econômico da exploração da Amazônia. E isso passa por pesquisa e desenvolvimento de projetos que reforcem a importância da floresta em pé. Há tempos que a gente vem batalhando para mostrar que existem outras formas de gerar valor sem ser de uma maneira destrutiva.
É o momento dos empresários se unirem para isso?
Claro. É uma pressão que não é só dos empresários, é global. Eu tenho visto que a polarização que existia entre área econômica e ambiental vem se desfazendo por causa da absoluta prioridade de colocar de uma forma clara um desenvolvimento sustentável.
Polarização entre área econômica e ambiental?
Historicamente sempre houve disputas entre as áreas chamadas de desenvolvimentista e a ambientalista. E isso se reflete também no setor privado. Não só do agronegócio mas também da construção, que reclamava das exigências ambientais. Hoje, existe uma maior sensibilidade para construir uma agenda comum. É impressionante, e é notável como isso vem evoluindo rapidamente.
O MPF pediu o afastamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O senhor concorda com isso?
Não tenho opinião e embasamento legal sobre esse pedido de afastamento. Mas o governo brasileiro não vem executando boa política ambiental. Talvez uma mudança possa ajudar.
É necessário algum tipo de autocrítica do governo?
O governo precisa tomar as ações adequadas, agir da maneira correta. Mas deram uma boa sinalização quando decidiram colocar o [vice-presidente] Hamilton Mourão para cuidar desse projeto Amazônia.
Fonte: Folha de SP, por Bruna Narcizo
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