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Novo ocupante da pasta terá missão de recuperar imagem do país em várias questões, mas depende de autonomia para isso, avaliou Carlos Alberto França
A saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores era previsível e a atuação do futuro ocupante do posto, Carlos Alberto França, depende da autonomia que terá ou não do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A análise é do ex-ministro da pasta, Celso Lafer, em entrevista à CNN nesta segunda-feira (29).
Lafer afirmou que Araújo vinha sendo objeto de inúmeras críticas dos mais diversos setores, como “os estudiosos, o agronegócio, os exportadores, os preocupados com os investimentos, os ambientalistas e assim sucessivamente”. “Ele conduziu uma política externa da linha que o presidente queria que ele fizesse”, afirmou.
Ernesto Araújo vinha sendo pressionado, principalmente por parlamentares, que o criticaram por falhas nas relações diplomáticas que teriam prejudicado a aquisição de vacinas contra a Covid-19.
No fim de semana, o chanceler se envolveu em um novo embate com parlamentares, que complicou ainda mais a situação dele no Itamaraty. Em mensagem postada no Twitter, ele afirmou que a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, cobrou o apoio dele à tecnologia chinesa do 5G, indicando que este era o real interesse dos parlamentares, e não as vacinas.
Nesta segunda, um grupo de senadores se preparava para apresentar um pedido de impeachment de Ernesto Araújo.
Para Lafer, o atrito com parlamentares foi fatal. “Contrapor-se ao Senado, para o ministro das Relações Exteriores, é um desastre, pois o ministro depende dele para indicação de embaixadores. Ele acabou se atritando com Kátia Abreu, que preside a Comissão de Relações Exteriores, de uma maneira desastrada. A saída dele foi no fundo a crônica de uma demissão anunciada”, avaliou.
Lafer elogiou a formação do novo ministro, e contou o que espera da gestão de França no Itamaraty. “Não o conheço pessoalmente, sei que tem uma boa formação. Ele é um jovem embaixador, alguém que teve experiência na condução de uma embaixada, o que é importante para o cargo. Num primeiro momento, ele não simboliza nada além de um diplomata de carreira bem formada e aparentemente com zelo profissional”.
Para o ex-ministro, França dependerá também das decisões do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seu governo. “O que ele vai fazer na condução da política externa não depende só dele, mas da atitude do presidente. Vemos isso na Saúde, que o presidente eliminou ministros”, comparou.
França avaliou que Araújo deixou um legado negativo e que há muito o que se fazer para recuperar a imagem do Brasil com os demais países. “A política externa desgasta o governo no capítulo da vacina, no relacionamento com a China, com a União Europeia, com o tema do meio ambiente, com o Mercosul… É uma política ideologicamente enviesada que construía muros e rompia pontes. Isso precisa ser mudado.”
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