Para ex-presidente do BC, é preciso resolver estrutura de gastos brasileira
Um relaxamento da regra do teto teria como consequência uma expansão dos gastos públicos na direção errada. A afirmação é do economista Pérsio Arida, que, na Live do Valor, saiu em defesa do teto de gastos para o melhor funcionamento do país e das políticas públicas. O argumento de que a regra deve ser mantida porque a dívida está em níveis elevados, porém, foi criticado pelo economista. “Do ponto de vista do funcionamento do Estado brasileiro, você tem defesa do teto de gastos que independe da dívida. Se a dívida fosse de 100% ou 75%, ou mesmo 65% do PIB, eu defenderia o teto de gastos da mesma maneira.”
A discussão recente em torno do Orçamento, inclusive, foi apontada como justificativa por Arida para a manutenção da regra do teto. “Você não vê nenhum lobby para ampliar os gastos com ciência e tecnologia, em favor da cultura brasileira, que são funções precípuas do Estado. Você vê lobby para aumentar gastos com funcionários; com investimentos, que interessam ao setor privado; com emendas parlamentares; com reduções tributárias.”
Ex-presidente do Banco Central e do BNDES, Arida acredita que o cerne do problema a ser enfrentado pelo Brasil é “fazer um esforço crítico para resolver a estrutura dos gastos”. Na avaliação do economista, o fenômeno do patrimonialismo se mostra mais intenso em solo brasileiro do que em outros países e se contrapõe a uma realidade de elevada desigualdade social. Nesse sentido, o economista defendeu a continuidade do teto de gastos. “Sabemos que, se você liberar o teto, a expansão vai ser ruim. Vai ser mais um fenômeno de apropriação”, afirmou.
Arida se mostrou contrário a um aumento da carga tributária como uma saída para diminuir o nível de endividamento e afirmou esperar que o problema na estrutura de gastos brasileira seja endereçado no próximo governo. Durante a “live”, teceu críticas ao governo Bolsonaro e disse não ter “esperança nenhuma” com relação à atual administração. “Tenho esperança de que o novo presidente consiga colocar o país no rumo certo.”
Para ele, rede de proteção social, simplificação tributária, abertura da economia e teto de gastos são algumas diretrizes sobre as quais existe consenso entre as candidaturas de centro que têm se desenhado no momento para as eleições presidenciais de 2022. “Em alguns pontos, mais, e, em outros, um pouco menos [de consenso], mas o fato é: Bolsonaro está completamente fora desse bloco de ideias consensuais. E espero, sinceramente, que o antibolsonarismo esteja em 2022 como o antipetismo esteve em 2018. Bolsonaro e seu governo foram um descaminho para o Brasil.”
Arida, que coordenou o programa econômico de Geraldo Alckmin (PSDB), na eleição presidencial de 2018, disse que a ideia de uma candidatura da “terceira via” está desgastada, mas ele espera que as forças de centro e centro-esquerda se unam para enfrentar Bolsonaro em 2022. Ele tem simpatia pelos tucanos Tasso Jereissati (senador pelo Ceará), João Doria (governador de São Paulo) e Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul).
Apontada por Arida como um ponto consensual entre as candidaturas de centro, a abertura comercial é vista como primordial pelo economista para o ganho de produtividade no Brasil. “Não tem um emergente que tenha crescido rapidamente sem ter uma economia aberta. Espero que o próximo governo faça uma política de abertura efetiva para que o Brasil consiga avançar”, defendeu.
Ele também rebateu a ideia de que uma abertura maior da economia poderia “quebrar” a indústria nacional. Essa ideia, na visão de Arida, é uma “subestimação da capacidade empresarial brasileira”. O economista apontou que a competitividade externa tende a aumentar a interna e, como exemplo, citou a Embraer.
Nesse contexto, Arida também defendeu a privatização de estatais e disse ser “muito difícil” assegurar que interesses patrimoniais deixem de dominar o gasto público e a estrutura tributária. “É difícil, mas dá para fazer. Um novo presidente, com nova equipe econômica, uma que seja boa, dá para fazer. Nas estatais tem o lobby dos funcionários, dos parlamentares, dos fornecedores das estatais… Não tem outra solução que não seja a privatização”, disse.
“O presidente que quer privatizar, que diz que é decisão de governo, faz andar. Bolsonaro não acabou nem com as estatais criadas pela Dilma.”
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