VALOR
O presidente do Banco XP, José Berenguer, afirmou que o Banco Central brasileiro não está atrás da curva e tem conseguido manter a inflação sob controle. Na Live do Valor desta quarta-feira, ele elogiou o trabalho da autoridade monetária, mas disse que é preciso acompanhar a inflação de perto, em função dos aumentos nos preços das commodities.
Berenguer não quis dar um palpite sobre se o BC vai alterar o ritmo atual de aperto monetário, mas disse que os aumentos precificados pela ponta curta da curva de juros parecem justos. Já na parte longa ele afirmou que há espaço para redução de prêmios, especialmente se o governo conseguir avançar com as reformas.
Segundo ele, o BC está correto em apontar para uma “normalização parcial” da política monetária, ou seja, mantendo algum grau de estímulo, até porque existe o risco de uma terceira onda da pandemia de coronavírus. “O BC tem sido vigilante e acredito que vai continuar acertando”.
De acordo com o representante da XP, o cenário de descontrole sanitário é muito ruim e só tem uma saída, que é vacinar o máximo possível e o mais rápido possível. “Se houver uma piora, um descontrole novamente, parecido com o que vimos há 45, 60 dias, será muito ruim, para a economia, para a imagem do país e para a vida das pessoas, é claro”, afirmou. Segundo ele, há uma piora nas internações em alguns lugares, como São Paulo, mas ainda não é possível dizer se o Brasil conseguirá escapar da terceira onda.
“Se houver mesmo uma terceira onda e for preciso impor novamente restrições de mobilidade, será muito ruim, mas esse não é o cenário mais provável hoje”.
O executivo disse acreditar que o Congresso aprovará as reformas tributária e administrativa este ano, mas que elas serão menores do que os mais otimistas esperam. “Não vai resolver todos os problemas fiscais, mas vai na direção correta”, apontou.
Sobre o Federal Reserve (Fed), ele disse que nesse caso o BC americano está, sim, ficando atrás da curva e que será preciso monitorar o cenário de inflação alta nos EUA muito de perto. Segundo Berenguer, o impacto para os mercados financeiros e os emergentes, incluindo o Brasil, vai depender de como o Fed manejará o processo de normalização.
Se for algo planejado, bem comunicado, mais suave, o Brasil não deve sentir tanto, já que a presença de investidores estrangeiros aqui já caiu muito, recentemente. Por outro lado, se esse aperto monetário nos EUA for mais abrupto, causará choques no mundo todo. No caso brasileiro, o canal de contágio seria mais via apetite geral ao risco do que por meio dos fluxos de portfólio.
Investidor local como motor
O presidente do banco XP entende que o motor do mercado de capitais será o investidor local, em meio ao ambiente de taxas de juros baixas. Para ele, com os ruídos que o Brasil enfrenta na política, reformas estruturantes, questões ambientais, além das medidas contra a pandemia, a demanda estrangeira diminuiu e deve seguir nesta tendência.
“O investidor estrangeiro hoje está fora do Brasil”, disse. “O interesse do investidor estrangeiro de portfólio está muito baixo, não imagino que vá mudar no curto prazo”.
Ainda assim, ele diz que os estrangeiros podem entrar em algumas ofertas de ações específicas, e grandes empresas de consumo têm de ter uma presença no Brasil, em função do tamanho do mercado local.
Berenguer acredita que as ofertas no mercado de capitais devem continuar fortes este ano, mesmo com um aumento da Selic, porque os juros reais continuam em níveis historicamente baixos, o que estimula a migração de renda fixa de curto prazo para títulos mais longos e para a renda variável. “Pode ter momentos de volatilidade, em que ofertas menores acabam não saindo, mas essa tendência [de migração para a renda variável] vai continuar”.
Segundo o executivo, essa tendência só seria interrompida se houvesse um ambiente de descontrole inflacionário e fiscal, com a Selic subindo muito acima do que é precificado no momento, mas esse não é o cenário base. “A tendência é termos uma divisão de alocação mais parecida com países desenvolvidos”.
Ele notou que tipos de investimento como o SPAC (sigla para Special Purpose Acquisiton Company) conquistaram bastante popularidade nos EUA e poderiam chegar ao Brasil. “Acabamos de lançar SPAC da XP, está começando a ser executado. O processo demorou 16 meses e estamos animados”, afirmou.
As Spacs são companhias não operacionais, geralmente estruturadas por um gestor (“sponsor”), que captam dinheiro na bolsa para depois buscar aquisições. Não à toa, ganharam o apelido de “empresas de cheque em branco”. “Existem discussões entre a B3, a CVM e players de mercado. Seria interessante ter essa estrutura no mercado brasileiro também”, disse Berenguer.
Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/05/26/bc-nao-esta-atras-da-curva-esta-controlando-a-inflacao-diz-berenguer-da-xp.ghtml
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