Folha (publicado em 17/10/2021)
Essa coluna explica as duas figuras abaixo. As duas figuras explicam a virulência da inflação.
A primeira figura tem duas linhas. A linha cinza representa o CRB, um índice de preços em dólares das commodities. Lemos na escala da esquerda. A linha vermelha representa o valor da moeda americana em reais, isto é, o câmbio em reais por dólares. Lemos na escala da direita. Os dados são diários e começam em janeiro de 2000.
Note que, quando o preço das commodities sobe, o real se fortalece contra o dólar e, portanto, a curva vermelha desce. O oposto ocorre quando o preço das commodities desce. Neste caso a curta vermelha sobe.
Como somos um grande exportador de commodities, a elevação do preço das commodities no mercado internacional aumenta a nossa renda, e, portanto, fortalece o real. Essa gangorra entre commodities e câmbio amortece o efeito inflacionário no Brasil das altas das commodities no mercado internacional.
Note também que no período recente não ocorreu esse mecanismo amortecedor. Desde maio de 2020, as commodities subiram muito e o real não se valorizou.
Na segunda figura, temos em azul a representação do resultado da multiplicação das duas curvas da primeira figura. Isto é, o preço das commodities em reais.
Em geral a série do preço das commodities em real oscila menos do que a do preço das commodities em dólares. Recentemente não tem havido o efeito amortecedor e, portanto, o preço em reais das commodities explodiu. Aí está a cara da nossa inflação. Desde as menores cotações, em abril de 2020, as commodities em reais subiram aproximadamente 130%.
A razão pela qual, num mundo em que a inflação está subindo em muitos lugares, essa elevação seja particularmente forte no Brasil é justamente a de que esse mecanismo de suavização da alta das commodities por aqui, em função da valorização do real, deixou de funcionar.
Penso que a incerteza fiscal, muito agravada pelos gastos com a epidemia, explica a quebra do efeito gangorra. Tema para colunas futuras.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2021/10/entenda-a-virulencia-da-inflacao-no-brasil.shtml
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