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Ex-BCs destacam a importância de um arcabouço fiscal sólido

Valor (publicado em 15/12/2021)

Executivos se reuniram em evento sobre política monetária promovido pelo Tribunal de Contas da União

Ex-presidentes do Banco Central (BC) destacaram ontem a importância de um arcabouço fiscal sólido para a condução da política monetária. Já o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, reiterou que as turbulências recentes no mercado, em sua visão, foram maiores do que as alterações fiscais efetivamente sugeriam. Reforçou, no entanto, que “é importante que o governo sinalize” qual o arcabouço fiscal que será usado no médio e no longo prazo.

Citando a PEC dos Precatórios, Campos afirmou que o país pagou “um preço muito grande em termos de prêmio de risco por um desvio fiscal que foi relativamente baixo”. Isso significa, acrescentou, que houve a percepção por parte dos economistas de que alguma mudança estrutural estava em curso.

O presidente do BC falou em evento sobre política monetária promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Também participaram os ex-presidentes da autoridade monetária Ilan Goldfajn, Henrique Meirelles, Arminio Fraga e Affonso Celso Pastore, além do ex-diretor André Lara Resende.

Em sua fala, Goldfajn destacou que 2022 será um ano “complicado” frente à necessidade de combate à inflação, em meio a um cenário eleitoral no país e de possível alta dos juros no mundo. “Tem a chance de o ano que vem ser difícil. A percepção é que precisamos ajustar a âncora fiscal”, afirmou.

Já Meirelles disse que o “ruído fiscal” teve influência, por exemplo, sobre o fato de a cotação do dólar ter se mantido mais alta apesar da valorização das commodities. “Isso evidentemente leva a um comportamento diferente da inflação, o que coloca no BC um peso maior para enfrentar essa situação”, afirmou. Atual secretário de Fazenda de São Paulo, ele destacou ainda a importância de as políticas monetária e fiscal andarem na mesma direção.

No acumulado de 12 meses até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 10,74%. Para conduzir a Selic, o BC mira com pesos iguais os anos de 2022 e 2023, para os quais as metas de inflação são 3,5% e 3,25%, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual. Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic para 9,25% ao ano e afirmou que “antevê” nova alta de 1,5 ponto para o próximo encontro, em fevereiro.

Para Fraga, há fenômenos no país que fogem ao padrão devido, necessariamente, a fatores como a falta de confiança no arcabouço fiscal e institucional. Ele também citou o aumento simultâneo dos preços das exportações e do dólar como exemplo. “Isso sugere que tem alguma coisa mais fundamentalmente errada ou complicada no Brasil, que ao meu ver passa pelo arcabouço fiscal”, disse. Ele acrescentou que o país não tem um bom ambiente “democrático” e “previsível”.

Pastore disse que a taxa neutra de juros, que foi definida em sua exposição como “aquela que equilibra poupança e investimento”, pode estar em elevação no Brasil por causa de mudanças no teto de gastos. Para ele, a taxa vinha caindo nos últimos anos, mas o arcabouço fiscal baseado no teto “não existe mais”.

Ex-diretor do BC, Lara Resende afirmou que o maior risco do país hoje não é fiscal. “O risco é institucional, político”, defendeu. O economista disse ainda que a inflação atual não é de demanda e não será contida pela alta significativa da taxa de juros.

Ilan também deixou recomendações para a atuação do BC. Ele citou a importância das expectativas para a condução da política monetária e acrescentou que a flexibilização deve vir apenas depois que elas estiverem reancoradas. Disse ainda que não há necessidade de seguir mecanicamente o Federal Reserve (Fed) e que o BC tem que admitir que há coisas que não consegue fazer, como substituir uma âncora fiscal. O que pode fazer, completou, é não deixar que as incertezas se reflitam na inflação.

Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/12/15/ex-bcs-destacam-importancia-de-um-arcabouco-fiscal-solido.ghtml

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