Infomoney (publicado em 02/02/2022)
A inflação de 2021 explica grande parte da queda de gastos federais, mas não indica melhora permanente das contas públicas. Pelo contrário, o reajuste pela inflação passada deve implicar forte aumento do gasto em 2022
As despesas do governo central caíram fortemente no ano passado, segundo dados publicados recentemente pelo Tesouro Nacional.
Medido a preços de dezembro de 2021, o gasto, que havia atingido R$ 2,2 trilhões em 2020, recuou para R$ 1,7 trilhão em 2021, o mesmo patamar observado em 2019, ainda um pouco acima dos valores registados entre 2016 e 2018. Tal queda representou quase 2/3 da melhora do resultado primário do governo federal.
Mesmo que tenhamos apenas retornado aos níveis pré-crise, trata-se, à primeira vista, de um desempenho considerável. Há motivos para imaginar que será o arauto de uma nova postura fiscal, marcada finalmente pela redução sistemática das despesas?
A resposta é negativa. Parte da queda já havia sido encomendada, porque despesas realizadas em 2020, no auge da pandemia, não deveriam se repetir – pelo mesmo não na mesma magnitude – em 2021.
O dispêndio associado à Covid em 2020, principalmente o auxílio-emergencial, atingiu, a preços de dezembro de 2021, quase R$ 600 bilhões; no ano passado, não chegou a R$ 130 bilhões, valor ainda alto, é verdade, mas muito inferior ao que foi necessário no ano da peste.
A outra parcela da redução dos gastos se deve a uma questão algo mais sutil, mas não menos importante: o comportamento da inflação.
O valor do salário mínimo, por exemplo, importante para balizar o comportamento dos gastos previdenciários, se manteve inalterado ao longo de 2021, mas, como bem sabem aqueles que o recebem, seu poder de compra foi erodido pela elevação dos preços. Ao final do ano, comprava quase R$ 100 a menos do que em janeiro, perda de 9% no período, equivalente em poder de compra ao registrado no começo de 2014!
Fonte: Autor (com dados do Tesouro Nacional e IBGE)
Isto dito, é possível separar o comportamento das despesas recorrentes do governo (isto é, sem gastos extraordinários e “pedaladas”) em dois componentes distintos: o aumento nominal do dispêndio, que empurra o gasto para cima, e a corrosão inflacionária, atuando na direção oposta. O gráfico acima resume as estimativas.
A resposta é negativa. Parte da queda já havia sido encomendada, porque despesas realizadas em 2020, no auge da pandemia, não deveriam se repetir – pelo mesmo não na mesma magnitude – em 2021.
O dispêndio associado à Covid em 2020, principalmente o auxílio-emergencial, atingiu, a preços de dezembro de 2021, quase R$ 600 bilhões; no ano passado, não chegou a R$ 130 bilhões, valor ainda alto, é verdade, mas muito inferior ao que foi necessário no ano da peste.
A outra parcela da redução dos gastos se deve a uma questão algo mais sutil, mas não menos importante: o comportamento da inflação.
O valor do salário mínimo, por exemplo, importante para balizar o comportamento dos gastos previdenciários, se manteve inalterado ao longo de 2021, mas, como bem sabem aqueles que o recebem, seu poder de compra foi erodido pela elevação dos preços. Ao final do ano, comprava quase R$ 100 a menos do que em janeiro, perda de 9% no período, equivalente em poder de compra ao registrado no começo de 2014!
Fonte: Autor (com dados do Tesouro Nacional e IBGE)
Isto dito, é possível separar o comportamento das despesas recorrentes do governo (isto é, sem gastos extraordinários e “pedaladas”) em dois componentes distintos: o aumento nominal do dispêndio, que empurra o gasto para cima, e a corrosão inflacionária, atuando na direção oposta. O gráfico acima resume as estimativas.
Link da publicação: Ilusão de ótica – Opinião – InfoMoney
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.