Folha (publicado em 05/02/2022)
A figura abaixo apresenta a evolução do produto per capita da economia brasileira desde 1900 até 2021. Baixei os dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para 2021, empreguei a projeção do FGV Ibre de 4,6% de crescimento real. Os dados estão medidos em reais constantes (R$) de 2010.
O gráfico foi feito na escala logarítmica. Nessa escala, sempre que a taxa de crescimento for constante, a trajetória será bem aproximada por uma reta cuja inclinação será a taxa de crescimento.
Há claramente três períodos: de 1900 até 1917; de 1917 até 1980; e de 1980 até 2021. Houve, portanto, duas quebras estruturais na série da economia brasileira nesses últimos 120 anos: em 1918 e 1981. As taxas de crescimento anuais em cada um dos três períodos foram, respectivamente, de: 0,3%, 3,8% e 0,7%.
Além do PIB per capita no início e no fim da série, respectivamente R$ 1.245 e R$ 20.144, marquei na figura o PIB per capita em 1929, R$ 2.256, em 1995, R$ 15.752, primeiro ano em que superamos o pico de 1980, e em 2013, R$ 21.667, o pico antes de nossa grande crise de 2014 até 2016. Levou 15 anos para que o superássemos o pico de 1980, e, em 2021, ainda estávamos 7% abaixo do pico de 2013.
Contrariamente à percepção de muitos, o período de elevado crescimento não se iniciou com a Revolução de 1930, mas sim 12 anos antes, em 1918.
A quebra estrutural que produziu a aceleração do crescimento foi, provavelmente, o fechamento da economia mundial após o fim da pax britannica, com a Primeira Guerra. O fechamento da economia global foi lentamente revertido após a Segunda Guerra Mundial, e a globalização adquiriu muita velocidade a partir dos anos 1980, justamente quando desaprendemos a crescer.
Também nos anos 1980 houve a transição da ditadura militar para a democracia. A democracia, como seria natural, aumentou muito a demanda por gastos sociais, a grande omissão do período anterior, e comprometeu a capacidade de investimento público em infraestrutura. Ainda não conseguimos encontrar um pacote que concilie desenvolvimento com equidade e manutenção da capacidade de investimento do Estado brasileiro.
Adicionalmente, a ideologia majoritária vigente em nossas elites, de que o resto do mundo deseja nos explorar, acaba por gerar reações defensivas —a mudança do marco regulatório do petróleo em 2010 é um exemplo paradigmático— que dificultam a inserção da economia brasileira em um mundo globalizado.
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Fernando de Holanda Barbosa, professor titular da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da FGV, acaba de publicar “O Flagelo da Economia de Privilégios: Brasil, 1947-2020” pela editora da FGV, com a sua leitura de nossa história econômica contemporânea. Leitura imprescindível em ano eleitoral.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2022/02/a-economia-brasileira-a-longo-prazo.shtml?origin=folha
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