O economista Edmar Bacha, 80 anos, um dos pais do Plano Real, diz que a covid e o conflito russo-ucraniano são oportunidades para o Brasil se inserir nas cadeias globais de produção.
Motivos para a mudança
Haverá maior diversificação de produtores pelo mundo. Países asiáticos devem perder prioridade e a América Latina pode ser a alternativa.
Inflação e baixo crescimento
Continuarão até uma reconfiguração produtiva global. “As cadeias internacionais de valor tinham foco na Ásia. Com a união de China e Rússia, o Ocidente se dá conta que há um polo que gera preocupação com questões de segurança”, afirma.
O que falta ao Brasil
Bacha lista 3 prioridades: reformas administrativa e tributária e abertura da economia.
Resistência da esquerda
A indisposição para uma abertura econômica seria uma particularidade da esquerda do Brasil e da Argentina. “Até os países comunistas da Ásia, como China e Vietnã, entraram“, diz.
Assista
Clique aqui para ver a íntegra da entrevista de Edmar Bacha ao Drive (38min25s).
Abaixo, trechos da entrevista:
crise e oportunidade – “Na crise, vimos como somos dependentes de Taiwan em chips para automóveis e a importância de diversificar o fornecimento fora da Ásia”;sobre a globalização – “Temos que incorporar os conceitos de resiliência e diversificação, o que não foi feito porque as pessoas achavam que era o fim da história [referência ao livro ‘O Fim da História’, de Francis Fukuyama], em que o capitalismo venceu e que não faz mal depender de um só supridor. Vemos agora que isso não é verdade”;esquerda e abertura –“A esquerda tem uma certa exaltação do que é doméstico no Brasil e na Argentina. Compare com a Ásia. Até os países comunistas estão totalmente incorporados ao comércio internacional. Mas a questão não é só ideológica, é de grupos que defendem ferozmente seus interesses. O governo atual reduziu em 10% a tarifa externa do Mercosul. Houve uma reação contrária extraordinária das associações e federações. Queriam impedir”;PT – “Tudo de bom que teve, como o Bolsa Família, não compensa a corrupção magnânima com Mensalão e Petrolão e ideias econômicas atrasadas. Parece que está na idade da pedra da economia. Até o Boric, do Chile, trata de se distanciar da corrupção do PT e das loucuras da Venezuela. O PT não funciona para este país”;teto de gastos– “Infelizmente, o que vimos acontecer é que não só se mantiveram os gastos correntes elevados, mas os parlamentares começaram a se apropriar de parcelas crescentes do orçamento, o que não tem nenhuma racionalidade econômica. É um problema nem tanto do teto, mas da negociação política neste governo, que é decididamente muito ruim”;qualidade dos gastos– “O gasto social, em teoria, é grande. Mas quando você vê onde gastamos, nem sempre se dirige aos mais pobres. Gastamos muito em educação superior pública. Beneficia quem consegue chegar à universidade, que em sua maioria são pessoas que poderiam pagar, mas não pagam. A questão é redistribuir o gasto social em direção aos mais pobres”;Bolsonaro – “Acho que é um governo único na história. Como a gente poderia acreditar que chegaríamos tão baixo? É lamentável. Espero que seja riscado do mapa tão cedo quanto possível“;3ª via– “Precisamos encontrar a 3ª via. O PSDB se desestruturou, mas acho que ainda pode ser uma peça importante, sobretudo se o Eduardo Leite continuar no partido, e eu espero que continue, para constituir uma alternativa viável com MDB, PSD e União Brasil a essa bipolaridade detestável à qual estamos sujeitos com Lula e Bolsonaro”.