Horacio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski
Globo
Aproximam-se as eleições, época de intenso patrulhamento e caça selvagem por culpados de qualquer espécie. Período em que, recorrentemente, o empresário é tratado como mal em si. Seja industrial, agricultor, financista, comerciante ou operador de serviços, o mero ato de deter capital faz dele um algoz. Tem o lucro como um pecado absoluto e, se acerta em algo, é mera obrigação.
Em vez de discutir-se quem são, e as razões que determinam os bons e os maus, qualifica-se indistintamente a todos pelo que há de condenável numa minoria. O Brasil tem bons empresários, empreendedores novos e antigos, geradores de riqueza, estudiosos de estratégias da presença de seus produtos mundo afora, empregadores responsáveis, reformistas legitimamente comprometidos com o futuro.
Tem também maus empresários, despreocupados com a iniquidade social, com a destruição da natureza que generosamente nos serve, apelando a instrumentos que, por meio de corrupção, monopólios, falta de transparência, visão meramente setorial ou regional, acumulação sem propósito e ofensiva ostentação, arrastam tudo de positivo que exista nesta indispensável profissão.
Empresários carregam justificado orgulho pelo que fazem. São tipos propositivos, mesmo que provocadores, ajudam a percepção da sociedade quanto às qualificações de quem produz. Não negam suas origens, não negam os erros seus e os de seus pares, não negam atitudes que afetam a reputação do meio em que vivem. Não são, contudo, bem-sucedidos nas mensagens. Muitas vezes vemos no segmento confusão conceitual, diversionismo, interesses a dividir quem deveria estar unido.
A reforma tributária — que claramente exigiria visão de longo prazo, generosa com o Brasil, com atores dispostos a se sacrificar por algo maior — é um dos retratos visíveis da corrida alucinada e egoísta pelo resultado a qualquer custo. Outro: a escolha cidadã e necessariamente republicana por candidatos que tenham programas claros, comprometidos, de qualidade e honestidade intelectual, se perde na ansiedade da opção pelo que parece o menos ruim ou trabalhoso, ou ainda pior, por garantir-se junto aos que apontam ser os prováveis novos donos do poder.
Basta uma olhada em determinadas visitas a Brasília, no discurso pseudopatriota de algumas lideranças, nos argumentos de pouca transparência, na maneira como são tratadas ações como subsídios, agências reguladoras, abertura comercial e acordos internacionais, quando não os governos como clientes, para ter uma visão clara das razões por que os não poucos bons empresários são atropelados pelos pares de duvidosa reputação.
Há inúmeros grupos de estudo do Brasil que todos precisamos urgentemente alcançar. Um olhar atento a eles, seus membros, objetivos e conteúdo já permitiria um entendimento da qualidade e oportunidade dos interesses que podem nos levar avante ou para trás.
O empresário qualificado quer desenvolvimento com justiça social. Quer ver bom uso da riqueza que cria. E quer também obter o justo prêmio por seu risco e dedicação. No universo dos bons, tudo isso cabe. No dos maus, somente se algo ou alguém ficar de fora.
Antes, portanto, de atacar, parece razoável um olhar mais atento a quem se dirige o fel das palavras. Já será bastante difícil vivermos esta quadra futura, fruto da intoxicação de uma desastrada pandemia, de uma guerra terrível, de um governo tendencioso, para ainda por cima qualificarmos erradamente quem pode ajudar a dela sair com algum viço.
Os interesses nobres são facilmente identificáveis. Os que se prestam ao jogo do poder, do dinheiro fácil, do privilégio, são menos claros e, portanto, demandam atenção. Não se deve confundir quem aqui está para ajudar com aqueles que podem atrapalhar. Bons empresários, como quaisquer outros bons de outros segmentos, merecem respeito e solidariedade em seus compromissos.
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