Salvar a Amazônia: para um país como o Brasil, que tem 60% da maior floresta tropical do mundo, esse é um assunto que não deveria sair nunca da pauta. Mas sabemos que, na prática, apesar de as questões ambientais estarem ganhando cada vez mais visibilidade e relevância, especialmente com os pilares ESG, ainda está muito longe do ideal e do necessário. A começar pelo pouco conhecimento que temos sobre a floresta e, principalmente, a respeito do que cada um pode fazer para preservá-la.
A temperatura da Terra está aumentando de forma rápida e caminha para ultrapassar as recomendações científicas estabelecidas pelo IPCC e adotadas pelo Acordo de Paris. Somente na última década, o planeta tem aumentado suas emissões de gases de efeito estufa e, como resultado, a temperatura global, de forma nunca antes vista e acelerada.
Boas notícias publicadas na imprensa e nos estudos técnicos têm amenizado um pouco o que está acontecendo. O último relatório do IPCC diz que ainda temos chances de alcançar as metas estabelecidas, apesar de estas chances ainda serem pequenas.
Os números recentes do PRODES nos confirmam que não podemos mais esperar que políticos ajam de forma adequada e adotem as medidas necessárias para impedir o desmatamento. Temos, é claro, que votar com consciência e cobrar que façam o que é preciso, mas já passou da hora de envolver o mercado nesse propósito de forma prática e intensiva. Só assim conseguiremos dar o salto necessário para interromper o processo de destruição da floresta.
Ela é muito mais que um conjunto esplêndido de árvores milenares. É a maior biodiversidade do globo terrestre, com cerca de 60 mil espécies de plantas e animais – um ecossistema riquíssimo que está clamando por socorro.
E é possível que pessoas físicas e jurídicas ajudem a reverter a situação dramática de destruição que temos acompanhado nos últimos anos. O mecanismo de REDD+ (adotado pela ONU com o objetivo de Reduzir Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal) se apresenta como uma rica alternativa que vem trazendo resultados para a proteção florestal em áreas que sofrem grandes pressões de desmatamento. Trata-se de trazer valor à floresta em pé ao remunerar via créditos de carbono os envolvidos por não desmatar a região, fazendo com que a proteção se torne economicamente competitiva com outras atividades como a criação de gado.
Como funciona exatamente? Lembramos das aulas de biologia no colégio, que árvores acumulam carbono em seus troncos e raízes conforme crescem, de forma que grandes florestas, como a Amazônia, se tornem grandes estoques de carbono. Acontece que, o desmatamento contribui para que todo esse carbono seja liberado na atmosfera.
Ao impedir o desmatamento via projetos REDD+, todo o carbono que seria emitido é transformado em créditos de carbono, vendidos a empresas e pessoas que querem compensar suas emissões de gases de efeito estufa. O valor deste crédito é revertido à erra, fazendo então com que se torne economicamente atrativo manter a floresta em pé. São projetos realizados via iniciativa privada, fazendo com que empresas e pessoas físicas possam contribuir de forma mais ativa na preservação de florestas tropicais. No Brasil, o governo propôs incluir projetos do tipo no mercado de carbono sendo discutido atualmente no congresso nacional.
Isso quer dizer que atualmente o governo não estabelece um teto de emissão de CO2, não taxa as indústrias que ultrapassarem a cota, nem controla quanto cada companhia deveria compensar.
Portanto, temos que nos mobilizar para cada um fazer a sua parte, mas também para exigir que empresas reduzam suas emissões e que o governo federal faça a dele, que é proteger a floresta e regulamentar o mercado de créditos de carbono para fomentar mais projetos, como o REDD+, que promove a transição para uma economia de baixo carbono. É preciso preservar a natureza e integrar as comunidades locais; e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento sustentável da região.
A compensação de emissões de carbono com a política de créditos é apenas o início de um ciclo de projetos possíveis. Com a floresta em pé, é possível explorar, de forma responsável, toda a potencialidade de suas riquezas naturais e culturais para diversos mercados, como saúde, cosmética e alimentação, integrando as comunidades e floresta à sociedade moderna. Os projetos de REDD+ são essenciais para conservarmos a biodiversidade, estabilidade climática e assim chegarmos a uma economia de baixo carbono.
Proteger a floresta, apesar de parecer algo distante, é muito mais barato e eficiente do que qualquer projeto de reflorestamento adotado por tantas empresas. Recuperar um hectare de área desmatada custa cerca de R$ 10 mil a R$ 25 mil, dependendo da técnica utilizada. O cálculo considera apenas árvores e não contabiliza todo o ecossistema que é preservado e que, infelizmente, não se recupera com a mesma velocidade de um replantio.
Há muitas empresas bem-intencionadas que colocam grande volume de recursos em projetos sustentáveis, mas com baixo retorno para o meio ambiente. É possível aumentar exponencialmente a taxa de retorno e contribuir também à preservação da Amazônia. Proponho que cada uma faça sua parte na preservação de um dos ecossistemas mais importantes do mundo. O tempo é agora.
Janaína Dallan é engenheira florestal, membro do time de especialistas da ONU para Mudanças Climáticas (RIT), presidente da Aliança Brasil para Soluções Baseadas na Natureza do painel de experts para o Integrity Council for Voluntary Carbon Markets e CEO da Carbonext.
Artigo da série Economia do Clima, sob a curadoria de Ricardo Gallo.
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.