Folha
O gráfico abaixo apresenta a trajetória da economia brasileira desde o 1º trimestre de 1996, cujo valor foi padronizado em 100. Os dados são do IBGE e vão até o primeiro trimestre de 2022.
A linha vermelha é uma curva que cresce à taxa de 1,4% ao ano, representando a tendência de crescimento para o triênio de 2017 até 2019.
Segundo o quadro, a economia operou, no primeiro trimestre de 2022, 1% abaixo da tendência prévia. A forte queda de 11% na pandemia foi rapidamente revertida.
No gráfico está representada também a crise de 2008 e 2009. Há uma perda grande entre o 3º trimestre de 2008 e o 1º de 2009, de 5%, totalmente revertida em alguns trimestres.
Tanto a grande crise financeira global quanto a pandemia, que causaram, respectivamente, as crises brasileiras de 2008 e 2020, são exógenas à dinâmica da economia brasileira. Por esse
motivo, apesar de todo o custo social, muito maior na crise atual do que na de 2008, essas crises não deixaram marcas profundas na trajetória da economia como um todo. A economia cai e volta.
Ocorre diferente com a grande crise que vai do 2º trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016. Esta deixou uma marca na atividade econômica na forma de uma perda permanente de 10% no produto.
Segue a indagação: o que ocorreu? Não parece fazer sentido atribuir a perda permanente ao movimento dos preços das matérias-primas. Estes sobem e descem. Nós caímos e não nos levantamos mais. Há duas leituras.
Na primeira, dos colegas economistas heterodoxos, atribui-se a queda permanente a erros de política econômica cometidos no segundo mandato de Dilma e nos governos Temer e Bolsonaro. Esses analistas enfatizam muito a política fiscal e monetária, que, segundo eles, teria sido muito apertada no período. O aperto da política econômica atrasou a recuperação e transformou uma queda que seria
cíclica em perda permanente.
Já na segunda leitura, os economistas neoclássicos ou ortodoxos enfatizam erros de política econômica cometidos no segundo mandato do presidente Lula e no primeiro mandato de Dilma.
Como mostrei na coluna de 28 de maio, o superávit primário estrutural do governo central, calculado pela IFI (Instituição Fiscal Independente), caiu de 1,8% do PIB em 2005 para -2,4% do PIB em 2014.
Além da piora fiscal permanente, uma série de políticas intervencionistas prejudiciais à qualidade da regulação e do marco legal e institucional em geral produziu perda permanente de produtividade. As políticas intervencionistas ruins, muitas vezes, vêm e permanecem.
Como exemplo do intervencionismo malsucedido do período, vale lembrar a política de conteúdo nacional, as desastradas alterações do marco regulatório do petróleo e da eletricidade, a hipertrofia dos bancos públicos e as desonerações, entre tantas outras políticas que não sobrevivem a uma análise simples de custo e benefício.
Adicionalmente, a política macroeconômica muito expansionista praticada entre 2012 e 2014, que manteve a economia operando além da plena capacidade, com inflação reprimida e déficits externos imensos, explica parte da perda permanente de produto.
Entre as duas leituras, o leitor seleciona a sua.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2022/06/intervencionismo-e-erros-de-politica-economica-explicam-parte-da-perda-do-pib.shtml
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