O liberal de verdade se importa com o seu destino e também com o da sociedade a que pertence
Estadão
Toda campanha busca uma mensagem para chegar ao coração dos eleitores. Seja a esperança de um futuro melhor, seja a promessa de volta a um passado idealizado.
Para mim, no entanto, a melhor de todas foi a de Obama, que saiu dessa armadilha: “Sim, nós podemos”. Simples, direto e poderoso. Com o eleitor no centro da solução, afasta as promessas vazias, o discurso populista e um projeto imposto de cima para baixo. O “nós” significa que toda a sociedade está envolvida na construção de seu próprio futuro.
Estamos divididos em uma polarização disfuncional. Furar essa bolha, trazer um projeto realista, inclusivo, social e fiscalmente responsável é o grande desafio do momento. A miséria e a insegurança alimentar, o atraso na educação e o crescimento medíocre – e não inclusivo – não encontrarão resposta nem no intervencionismo do passado nem no liberalismo sem alma do governo atual.
Encontrei minha resposta ao reler o discurso de lançamento da candidatura de Mario Covas, de 1989. O famoso “Choque do capitalismo”. Nele encontrei um projeto liberal e progressista. A responsabilidade social e o fortalecimento da democracia. Está tudo lá.
Mesmo com os avanços do período de redemocratização, a pauta ainda é atual. Muitas reformas ainda não se completaram, e ainda tivemos anos de retrocesso na economia, com intervencionismo e gastos excessivos.
Covas não venceu, mas FHC colocou a agenda em prática. Pena que o PSDB não tenha defendido seu legado. Os sociais-democratas escolheram enfrentar o populismo do PT negando suas próprias origens. Nem os avanços na área social foram valorizados. Bolsa Escola, Cadastro Único, Luz no Campo, reforma agrária, Fundef, a universalização da energia e telefonia, resultado da privatização, e o avanço na saúde pública mudaram nossa sociedade. O PT se apropriou da pauta social. E os tucanos passaram a ser vistos como “neoliberais” sem coração.
O atual governo, na figura de seu ministro da Economia, contribuiu ainda mais para a distorção da visão de uma agenda progressista que acompanha o liberalismo clássico. O que Covas já defendia há muitos anos. O liberal de verdade quer ver filho de porteiro na universidade. Com igualdade de oportunidades, não há limites aonde se possa chegar. E, para isso, a política social deve estar no centro das atenções. Tirar da esquerda o monopólio da virtude é fundamental.
Volto ao Obama, com um pequeno ajuste: Sim, nós nos importamos. Cada um de nós se importa com seu destino, mas também com a sociedade a que pertence.
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