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Por que é tão caro construir refinarias no Brasil?

Folha

O Brasil é hoje um grande exportador de petróleo. Se até 2009 o país era autossuficiente ou levemente importador, com a entrada da produção dos campos do pré-sal essa realidade alterou-se radicalmente.

Em 2021, nossas exportações líquidas de petróleo totalizaram US$ 26,6 bilhões. A posição do Brasil como um importante exportador líquido de petróleo está consolidada e aumentará na próxima década.

No entanto, quando olhamos a situação dos derivados, somos importadores líquidos. Desde 2010, o déficit da balança de derivados de petróleo tem sido de US$ 7 bilhões, sem grandes variações. Por exemplo, em 2021 o déficit da balança comercial de derivados foi de US$ 7,6 bilhões.

Poderia fazer sentido que nós elevássemos a capacidade de refino e, em vez de exportar a matéria-prima, passássemos a ser exportadores de derivados. Adicionaríamos valor à produção.

A dificuldade está com “adicionar valor”. Para que a atividade de refino adicione valor, os ganhos precisam compensar os gastos operacionais, mas também os investimentos em refinarias.

Nos anos 2000 houve elevadíssimo esforço em investimentos da Petrobras para a instalação de refinarias e, consequentemente, para a elevação da capacidade de refino da empresa.

No site da estatal está disponível a série de investimento em refino. A base está em dólares correntes e frequência anual desde 1954, primeiro ano de operação da Petrobras.

Para obter uma série do investimento da empresa desde 1954 a preços constantes, empregamos como índice de preço a inflação para os EUA específica do investimento em capital não residencial. Em linguagem técnica, empregamos o deflator do investimento em capital fixo não residencial das contas nacionais americanas.

Para termos uma ideia da efetividade do investimento, obtivemos, no site da ANP (Agência Nacional de Petróleo) a série da capacidade de refino medida em quantidade de barris de petróleo por dia. Os números impressionam.

De 1954 até 2002, o investimento total da Petrobras na área de refino foi de US$ 27 bilhões. De 2002 até 2016, foi de US$ 101 bilhões. Todos os valores a dólares de 2012. A capacidade de refino da estatal era em 2003 de 2 milhões de barris por dia. Em 2020, era de 2,41 milhões.

No primeiro período, cada barril por dia de capacidade de refino custou US$ 13.227 e, no segundo período, custou R$ 263.747, 20 vezes mais.

Em um texto com meus colegas Adriano Pires e Luana Furtado no Blog do FGV Ibre, documentamos que o custo hoje de aumentar a capacidade de refino em um barril por dia encontra-se entre US$ 15 mil e US$ 30 mil. Certamente US$ 250 mil é um disparate, como dizia minha avó.

A esses custos será impossível sermos exportadores de derivados de petróleo. Ou somente o seremos se os ganhos da atividade de refino forem negativos, isto é, se retirarem valor do país.

Ou conseguimos reduzir substancialmente os custos de instalação de capacidade de refino no Brasil ou continuaremos a sermos exportadores de petróleo cru.

A pergunta do título da coluna precisa ser respondida antes de tentarmos um novo ciclo de investimento em refinarias. Talvez seja mais eficaz alterar toda a regulação do setor para que a construção de refinarias, se e quando for rentável, fique a cargo de empresas privadas.

No post do blog há o link para acesso ao arquivo Excel com todos os dados, bem como o link para acesso aos dados originais.

Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2022/08/por-que-e-tao-caro-construir-refinarias-no-brasil.shtml

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados

Sobre o autor

Samuel Pessôa