Ex-ministro defende novas mudanças nas regras trabalhistas
Valor
Destaque entre os ex-presidenciáveis que declararam voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira (19), o ex-ministro Henrique Meirelles (União Brasil) diz que a reação do mercado financeiro ao seu apoio ao petista foi positiva. Segundo Meirelles, o gesto foi visto como um sinal da campanha presidencial de Lula de que um eventual novo governo do PT terá uma “política econômica com responsabilidade fiscal e monetária”.
O ex-ministro, no entanto, já tem gerado desconforto a apoiadores da chapa petista e à equipe econômica da candidatura ao criticar propostas que são defendidas como prioridade por Lula, como a revogação do teto de gastos e a revisão da reforma trabalhista.
“Cancelar o teto [de gastos] é equivocado. Digo isso com clareza, causando desconforto ou não. É equivocado para o Brasil, para a campanha do Lula, para o Lula, para todo mundo”, diz Meirelles ao Valor. “Seria um erro porque não adianta fazer os programas sociais e [ao mesmo tempo] gerar desconfiança na economia, e o país acabar entrando em recessão e desemprego”, afirma.
Ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer (MDB), Meirelles foi o responsável por criar o teto de gastos, que limita o crescimento das despesas da União.
Para o ex-ministro, o fim do teto é uma “das série de coisas equivocadas ditas pela campanha” de Lula. “Mas tenho expectativa que a realidade prevaleça”, diz. Meirelles afirma que é possível manter as despesas com programas sociais dentro do teto de gastos. Para isso, diz, o próximo governo deverá fazer uma reforma administrativa, para liberar recursos para os investimentos sociais e em infraestrutura. “O mais importante é o teto”, reforça.
Além da divergência em relação ao teto de gastos, Meirelles e a campanha de Lula têm propostas diferentes para a legislação trabalhista. Apoiadores do ex-presidente defendem a revogação da reforma trabalhista feita por Temer com apoio de Meirelles, mas a coordenação da campanha petista tem falado em “revisão” da reforma, sobretudo para alterar as regras da terceirização e ao trabalho intermitente.
O ex-ministro diz que é possível fazer uma revisão da reforma trabalhista, desde que não haja nenhum recuo em relação ao que foi aprovado no governo Temer.
“Avançar, incorporar coisas que não existiam, tudo bem. Tudo aquilo que é um avanço em relação ao que foi feito em 2017, tudo bem. O que não pode é voltar atrás”, afirma. Meirelles diz que há “margem” para avanços e cita como exemplos regras para os motoristas e entregadores de aplicativo. “Eles têm que ser incluídos para receberem direitos. A reforma trabalhista foi um avanço. Tem que ser atualizada.”
Um dia depois de anunciar publicamente o apoio a Lula, ao lado de outros sete ex-candidatos à Presidência, Meirelles se reuniu na terça-feira (20) com investidores da XP. A recepção foi boa, diz. “Boa parte dos agentes econômicos acha que é muito importante [meu apoio a Lula] e veem em mim a credibilidade e a capacidade de julgamento, de avaliação”, afirma.
Meirelles, no entanto, diz que não foi escalado por Lula para fazer uma ponte com agentes financeiros. Ao falar sobre a resistência do mercado em relação ao petista, reforça as críticas a propostas econômicas da campanha do petista. “É pelas propostas equivocadas que a campanha tem feito. É isso. No momento em que a campanha começa a dizer as coisas corretas, a reação do mercado é positiva”, diz, citando seu apoio a Lula como exemplo de “reação positiva”.
Ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles ressaltou a boa relação com o ex-presidente petista, mas afirmou que os dois não conversavam há cerca de três anos. A aproximação foi feita pelo vice na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que ligou para ele no fim da semana passada e o convidou para participar do ato com ex-candidatos à Presidência na segunda-feira.
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