No cenário de um “waiver” de R$ 175 bi, como sinalizado, dívida bruta poderia ir para perto de 80%, e inflação, para 5,6%, estima economista-chefe
Valor
Se a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva insistir num “waiver” (licença para gastar) muito maior do que o estimado pelo mercado, isso poderia não apenas levar a dívida bruta para próximo dos 80% do PIB, como também puxar a inflação e fazer com que a chance de um corte de juros próximo “quase desapareça”, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú, em entrevista.
No cenário de um waiver de R$ 175 bilhões, como sinalizado, o economista estima que a dívida iria para 79,2%, o déficit para 2% do PIB, a inflação para 5,6% e o dólar para R$ 6 no caso de o mercado reagir muito mal e elevar muito o prêmio de risco. “As chances de um corte nos juros quase desaparece”, diz. Nesse caso, ele estima juros chegando no fim do ano que vem a 13%, ou seja, apenas 75 pontos-base a menos do que o patamar atual.
Mesquita afirma que a grande dúvida no radar do mercado agora é o tamanho do problema em termos de extensão: se o pedido para aumento dos gastos fora do teto vai ficar restrito a 2023, será restrito aos próximos quatro anos ou não terá tempo para acabar.
Mesquita não vê o teto de gastos completamente removido, mas sim modificado. “O Brasil não vai voltar ao teto originalmente proposto, mas também não vai mudar para um regime fiscal de aumento irresponsável do gasto”, disse, ponderando que o retorno para um regime de metas fiscais ou a remoção de gastos sociais, como o Bolsa Família, do teto de gastos – conforme sinalizado – é uma má sinalização sobre o comprometimento fiscal do país.
O economista-chefe do Itaú também não vislumbra agora um cenário em que o Banco Central tenha que aumentar juros, embora parte do mercado tenha começado a precificar uma taxa de 14% em 2023, na semana passada. Mas, se o cenário piorar a ponto de a autoridade monetária se ver diante da necessidade de ter que aumentar os juros, ele é categórico em afirmar que uma alta de 0,25 ponto percentual não deve ser a solução e o BC “terá que subir bem mais que 14%”.
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