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Fiesp, a hora da verdade

Processo de transformação começou, mas precisa ter prosseguimento

Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski

Folha

Novos governantes tomarão posse em janeiro próximo, tanto na esfera federal quanto na estadual. Um dos inúmeros desafios que terão que enfrentar é o aumento da atividade industrialestagnada há três décadas.

A reconstrução de uma indústria de transformação globalmente competitiva poderia compor o motor de um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social do país, com maior geração de divisas, recolhimento de impostos e criação de empregos, com o consequente fortalecimento do setor de serviços e da agricultura moderna. A indústria do futuro, contudo, exige um ambiente de negócios favorável, um sistema tributário simples, isonômico e que taxe a real agregação de valor, a integração do Brasil ao mundo, e um processo de modernização que a coloque alinhada à revolução digital e a uma economia de baixo carbono.

As associações empresariais têm um papel importante a defender nessa agenda modernizadora. Essa função tem sido exercida por agremiações setoriais, por think tanks como Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), CCiF (Centro de Cidadania Fiscal), CDPP (Centro de Debate de Políticas Públicas), Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) e Cindes (Centros de Estudos de Integração e Desenvolvimento), por alguns sindicatos patronais mais atentos e pelas federações de indústrias.

No caso de São Paulo, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), sob nova direção desde o início de 2022, angariou o apoio de expressivo número de empresários comprometidos, que acreditam em sua legitimidade para participar desse desafio. Seus conselhos superiores passaram a ser compostos por dirigentes industriais; suas áreas internas de apoio foram fortalecidas e valorizadas dentro de uma nova dinâmica, visando a redefinição da atuação da entidade paulista.

Uma ambiciosa “Jornada de Transformação Digital” pretende modernizar mais de 40 mil pequenas e médias empresas paulistas, com o apoio de Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e com recursos adicionais disponibilizados por uma agência estadual, o Desenvolve-SP.

No momento em que o país precisa colocar diferenças políticas de lado, ajudar e fortalecer os novos governantes, não faz sentido a Fiesp perder-se em questões paroquiais ou ameaçar ser influenciada por um grupo que, quando à testa da entidade, não defendeu os interesses de uma indústria moderna para o país.

O processo de transformação da Fiesp mal se iniciou, mas precisa ter prosseguimento. Erros de comunicação podem ter sido cometidos ao não sinalizar com clareza a nova estratégia —ou ao não integrar os importantes sindicatos patronais nesse esforço. Não faz sentido, no entanto, interromper um processo em andamento, embora certamente haja melhoras a fazer. Mas não podemos perder de vista que a Fiesp não é um objetivo em si mesmo; é um meio para fortalecer, revigorar e modernizar as empresas industriais sediadas em São Paulo.

Aqueles que de fatos estejam comprometidos com a busca de um novo caminho para a indústria, e com o necessário redesenho do sistema de representação empresarial, devem manifestar seu apoio à liderança de Josué Gomes da Silva na condução deste novo momento da Fiesp. O reiterado olhar para o passado —e passado de duvidoso resultado— e o mau hábito de se ocupar mais para dentro de seus domínios do que para fora não está de acordo com a urgência de todos, juntos, ajudarmos a fazer acontecer o futuro. Futuro que, mais do que nunca, recomeça agora.

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Sobre o autor

Pedro Passos