O economista ainda afirmou que o presidente Lula teve um ‘ataque de amnésia’ por defender a revisão das metas e pelas recentes críticas do petista à autarquia.
GloboNews
O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse ser contrário a um eventual aumento das metas de inflação e afirmou que o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teve um “ataque de amnésia” por se declarar favorável a essa revisão e pelas recentes críticas feitas ao Banco Central (BC).
Em entrevista concedida ao Conexão, da GloboNews, o economista disse que a atual meta de 3,25% para este ano e de 3% para 2024 estão de “bom tamanho”, reiterando que o ideal seria “manter a meta, mas dar mais tempo” para que o Banco Central consiga atingi-la. Veja a entrevista completa concedida por Fraga no vídeo abaixo.
“Acredito que mexer na meta seria pior. O protocolo do Banco Central recomenda que, diante de um quadro complexo de choques, sobretudo de custos, se faça o ajuste com o tempo. É isso o que o Banco Central está sinalizando quando fala que o horizonte da política monetária se alongou e hoje se encontra no terceiro trimestre de 2024”, disse.
Para Fraga, o fato de o juro estar muito alto e de a inflação não estar caindo na velocidade desejada mostra que está “faltando alguma coisa”.
“Primeiro, do ponto de vista da demanda no curto prazo, está faltando uma ajuda do Tesouro, do Ministério da Economia. E em segundo lugar, temos um prêmio de risco no qual o Tesouro paga 6,5% para captar [recursos] em um título indexado à inflação. O Brasil tem uma dívida grande e, a meu ver, a ideia de que o governo pode ficar se endividando sem limite é equivocada e perigosa”, completou o economista.
Fraga ainda disse que é fundamental definir as metas fiscais para os próximos anos.
“Acho que isso é mais importante do que o desenho de um limite que pode vir cheio de enrolações e fugir do básico. É preciso definir o que vamos fazer nos próximos três ou quatro anos para estabilizar essa situação [da dívida]”, acrescentou o economista.
O debate sobre uma possível revisão da meta da inflação surgiu no começo deste mês, em meio a especulações de que a primeira reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para esta quinta-feira (16), poderia discutir um aumento dessas metas. Recentemente, no entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o tema ainda não deve ser avaliado pelo colegiado.
Tensão entre Lula e Banco Central
Outro ponto abordado por Fraga diz respeito às recentes críticas feitas pelo presidente Lula à política monetária conduzida pelo Banco Central. Além de ter afirmado que a independência do BC é “bobagem”, o petista ainda fez críticas à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano.
Segundo Fraga, “não faz o menor sentido” que Lula esteja “promovendo uma pequena guerra” com o Banco Central.
“Confesso que estou muito surpreso com esse movimento [do presidente], posto que ele prometeu durante a campanha uma alta responsabilidade fiscal. Acho que ele teve um ataque de amnésia […]. E agora está um negócio meio estranho porque não só ele está se desentendendo com o Banco Central, mas ele está promovendo uma pequena guerra dentro de casa, e isso não ajuda nenhum pouco”, afirmou Fraga.
O economista ainda afirmou que “não está muito otimista” com o governo do petista e disse que apesar de o tempo social ser “urgente”, é preciso desenvolver o país a médio prazo, definindo um caminho de “pouco risco e pouca incerteza”.
“No momento não estou muito otimista, mas tenho esperança. O Brasil tem o potencial, mas são 40 anos de um crescimento medíocre e a gente não pode brincar. Acho que a gente precisa ter um pouco de humildade, arrumar a casa e trabalhar nas coisas que são fundamentalmente importantes, como educação, saúde, meio ambiente, inovação e estabilidade econômica. Acho que as oportunidades são gigantes para nós, mas nós temos o hábito de desperdiçá-las, infelizmente”, disse.
Link da publicação: https://g1.globo.com/google/amp/economia/noticia/2023/02/16/arminio-fraga-diz-ser-a-favor-de-manter-meta-de-inflacao-mas-afirma-que-e-preciso-dar-mais-tempo-ao-bc.ghtml
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