Folha
Um tema recorrente no debate público brasileiro tem sido os elevados juros praticados por aqui. Há dois aspectos: a alta taxa básica de juros, a Selic, e os elevados spreads bancários, cobrados pelos bancos em operações de crédito. Nesta coluna tratarei do primeiro tema.
A tabela abaixo apresenta na primeira coluna a taxa básica de juros para o Brasil e para as quatro principais economias latino-americanas. Venezuela e Argentina foram descartadas, pois a macroeconomia é uma verdadeira bagunça.
Na primeira coluna, temos a média das taxas reais de juros mensais (anualizadas) praticadas em cada país entre janeiro de 2010 e dezembro de 2019; antes, portanto, do início da pandemia. Os juros do Brasil são quatro vezes os observados no México, o segundo país em ordem decrescente de tamanho das taxas.
A percepção de que os juros por aqui são muito elevados está correta.
Na segunda coluna temos a média da inflação observada para os 120 meses. Nossa inflação é quase dois pontos percentuais maior do que a do México, o segundo lugar.
Na terceira coluna temos a média das taxas de poupança (como proporção do PIB) para os dez anos entre 2010 e 2019. Os dados são do FMI. Poupamos três pontos percentuais do PIB a menos do que a Colômbia, o país com a segunda menor taxa de poupança.
Na quarta coluna temos os gastos públicos com aposentadorias como proporção do PIB. Os dados foram retirados da tabela 7.1 de “Making Social Spending Work” livro publicado em 2021 pelo historiador Peter Lindert. Os dados se referem a 2010. Trata-se do gasto público da previdência do setor privado; no Brasil o Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Se incluíssemos todos gastos com previdência, privada e pública, rural e urbana, contributiva e assistencial, o número para o Brasil seria da ordem de 12% do PIB. Como vemos na tabela, gastamos pouco menos do que o dobro do Chile, o segundo que mais gasta.
Logo, é perfeitamente normal que nossos juros sejam maiores: temos a maior taxa média de inflação; a menor taxa de poupança; e somos o que mais gasta com Previdência.
No entanto, somos uma economia aberta. Não estamos restritos à poupança doméstica para financiar os investimentos. Temos acesso ao mercado internacional de capitais. Em economia aberta, o custo de capital é aproximadamente o custo internacional somado ao risco.
Na última coluna temos a taxa de risco-país medida pelo CDS de cinco anos. Novamente temos o maior risco.
Evidentemente, falta um trabalho mais sistemático para verificar o peso de cada um desses fatores na determinação dos juros internos.
De qualquer forma, não faltam motivos para que nossas taxas de juros sejam mais elevadas do que as de nossos vizinhos.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2023/03/juros-mais-elevados-no-brasil.shtml
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