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Uma revolução alimentar para crianças do Rio

‘O Rio de Janeiro não pode perder uma chance extraordinária de se tornar uma referência na promoção de infâncias mais saudáveis’

Por Arminio Fraga, Guilherme Frering, Mark Essle e Renata Couto

Globo

O Rio de Janeiro não pode perder uma chance extraordinária de se tornar uma referência na promoção de infâncias mais saudáveis. Por isso, o projeto de lei 1.662/2019, que propõe eliminar os alimentos ultraprocessados da dieta das escolas da cidade é fundamental. Hoje mais do que nunca temos que construir uma imagem de cidade saudável e sustentável para todas as crianças, sobretudo as mais afetadas pela desigualdade. Nesse espírito, vai aqui um apelo aos nossos vereadores para que garantam a eficácia do projeto.

Há quase dois anos, neste mesmo jornal, chamávamos a atenção para a possibilidade de que o Rio se tornasse, com essa proposta, a primeira cidade do estado a proibir em todas as escolas a oferta de ultraprocessados — isto é, alimentos ricos em gorduras, açúcares, corantes e outros aditivos prejudiciais à saúde. Ou seja, em vez de salgadinhos de pacote, refrescos açucarados e cheios de corantes, salsichas e afins, as escolas deveriam oferecer apenas alimentos saudáveis — como lanches feitos com ingredientes in natura e minimamente processados, como recomenda o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde.

No município vizinho, Niterói, uma proposta similar à do Rio foi aprovada em dezembro do ano passado, dando origem à lei 3.766/2023, que entrará em vigor este ano. Em todo o Brasil e em outros países, multiplicam-se iniciativas que buscam proteger a saúde alimentar de milhares de crianças e adolescentes e garantir a elas o direito a uma vida mais saudável. Enquanto isso, na Câmara do Rio, o PL 1.662/2019, desde que foi aprovado em primeira votação, vem sofrendo uma série de modificações que destroem sua eficácia. Uma emenda retira o termo “ultraprocessado” de um dos artigos, por exemplo, o que distorce o objetivo de proteger os estudantes da oferta desse tipo de alimento nas escolas.

O consumo regular de alimentos ultraprocessados está amplamente associado ao aumento dos índices de obesidade, e é um fator de risco para desenvolvimento de doenças crônicas, que podem se desenvolver ainda na infância e se agravar na vida adulta, comprometendo o desenvolvimento pleno e limitando a vida de milhares de crianças e adolescentes. Em todo o mundo, as doenças crônicas são a principal causa de mortes, segundo a OMS, e impactam significativamente os custos nos nossos sistemas de saúde.

‘Fases cruciais’

No Brasil, os indicadores de consumo de ultraprocessados e de aumento dos índices de obesidade seguem a mesma tendência, o que é especialmente preocupante na infância e na adolescência, fases cruciais para o desenvolvimento saudável. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PENSE) apontam que 97,3% dos adolescentes de 13 a 17 anos consumiram pelo menos um alimento ultraprocessado no dia anterior à pesquisa. Quase 50% dos alunos entrevistados relataram comprar alimentos comercializados dentro das escolas.

Na cidade do Rio de Janeiro, os dados são ainda mais preocupantes: o Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes revela que 34% das crianças e adolescentes cariocas apresentavam excesso de peso, índice mais alto que a média nacional, de 33%. Adicionalmente, dados preliminares do estudo de Comercialização de Alimentos em Escolas Brasileiras (CAEB), coordenado pela UFMG, apontam que a disponibilidade de alimentos não saudáveis nas cantinas escolares do Rio é 126% maior que a quantidade de alimentos saudáveis.

As escolas são espaços onde os estudantes passam boa parte do dia e consomem de 30% a 40% de sua alimentação diária. São, portanto, espaços fundamentais para a construção de hábitos saudáveis e devem ser ambientes verdadeiramente seguros para sua alimentação.

Diante dessa realidade, iniciativas como o PL 1.662/2019, que está em disputa na Câmara, são de fundamental importância para que milhares de crianças e adolescentes tenham acesso a uma alimentação adequada e saudável. Contamos com os vereadores do Rio para não perdermos esta oportunidade inédita de nos posicionarmos como uma cidade capaz de garantir a nossas crianças e adolescentes a chance de uma vida mais saudável a partir das escolas.

Link da publicação: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/05/uma-revolucao-alimentar-para-criancas-do-rio.ghtml

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

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Arminio Fraga