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A ‘sorte’ não garante o crescimento

Estadão

Entre 2003 e o início da Crise Financeira Global, em 2008, os preços internacionais de commodities – medidos pelo índice CRB – aumentaram 112%, beneficiando o Brasil com um excepcional ganho de relações de troca, que contribuiu – de forma estatisticamente significativa- para elevar a taxa de crescimento econômico. É inegável que o “fator sorte” deu sua contribuição, mas o crescimento somente ocorreu porque o governo executou políticas fiscal e monetária corretas.

Entre o início de seu primeiro mandato, em 2003, e a Crise Financeira Global, em 2008, Lula não executou uma política econômica delineada pelo seu partido. Limitou-se a executar e a cumprir os compromissos que a equipe econômica de FHC havia negociado com o FMI. Entre 2003 e 2006 o Ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nunca cansou de repetir que estavam “fazendo os superávits primários necessários para reduzir a relação dívida PIB”, com seu sucessor, Guido Mantega, sendo constrangido – a contragosto – a manter esse rumo entre 2006 e 2008. Assim, a dívida bruta caiu para 55% do PIB, e em abril de 2008 a agência Standard & Poor’s concedeu ao Brasil o “grau de investimento”. Finalmente, seguindo o exemplo de FHC, Lula concedeu ao Banco Central, presidido por Henrique Meirelles, a independência para colocar a taxa de juros onde fosse necessário para manter a inflação na meta.

No correr da semana passada o IBGE nos informou que, graças ao crescimento do PIB agrícola de 21%, o PIB do primeiro trimestre de 2023 aumentou 1,9%. Desta vez, a “sorte” de um crescimento acima da mais otimista das expectativas foi uma dádiva do clima, cujos efeitos elevaram, apenas, o PIB do primeiro trimestre. Embora a agricultura brasileira não precise da sorte para manter seu excelente desempenho, temo que agora, mais do que antes, Lula depende dela.

O Lula que atualmente preside o Brasil é totalmente diferente daquele que ocupou a mesma cadeira entre 2003 e 2008. O diagnóstico é o de seu partido, em nada parecido com o que herdou de FHC. O pragmatismo daqueles seis anos de sucessos foi substituído pelo populismo, que precisa da garantia dos gastos para manter o poder, e que hostiliza o Banco Central em vez de dar-lhe o respaldo fiscal que Palocci deu a Meirelles entre 2003 e 2006. Não é defendendo o uso do yuan em substituição ao dólar, nem afirmando que Maduro é vítima de uma “narrativa”, e desprestigiando Marina Silva em vez de apoiá-la na tentativa de salvar a Amazônia, que conquistará prestígio internacional.

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Sobre o autor

Affonso Pastore