Globo
Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski
Muito se tem debatido nestas últimas semanas a respeito da atuação do Executivo, do Legislativo e do Judiciário neste início do terceiro mandato Lula.
Como de hábito, opiniões polarizadas, torcidas, impaciência, não poucas vezes alguma presunção. Da mesma forma, críticas consequentes e incômodos consistentes.
Há um novo jogo de poder em curso, tão danoso quanto repetitivo, prática que desvia o foco dos Três Poderes no período mais vital para redesenharmos que país afinal desejamos e o tamanho do sonho que nos prometia esta gestão.
Há avanços na conquista de temas civilizatórios, enterrados nos últimos anos, mas enganos recorrentes na avaliação do que deve ser feito, no sentido de urgência, no planejamento e na comunicação com a sociedade. Sem clareza de quais são as prioridades, não há liderança que leve as pessoas para o destino correto.
E há, claro, recaídas pela insistência no que já não deu certo anteriormente e em maldades típicas do mercantilismo e egoísmo da política e do poder.
Contudo não vivemos nenhum apocalipse, não ainda, e isso tem de ser considerado para que se mantenha a chama da batalha diária por mudanças dignas do nome. As demandas e os projetos estão à disposição, com clareza rara.
Embora cada dia fique mais notável o desperdício de oportunidades que o tempo nos cobra, criando impactos que transitam da economia volátil à democracia ainda em perigo, desalento não é a solução, ao contrário. Triste verificar que já surgem conversas mirando o distante 2026, cômoda e inútil forma de evitar os problemas do presente.
O Brasil tem vigor e oportunidades únicas. Mas qual a janela diante de um mundo onde ciência e tecnologia operam cada vez mais pela via da produtividade e competitividade, definindo a posição relativa dos países, dos ativos e do bem-estar de seus povos? Não é larga, como parecem acreditar nossos incumbentes.
Apesar de suas riquezas, o país está condenado a ainda passar um bom tempo administrando escassez. Escassez de dinheiro, de educação e mão de obra qualificada, de cérebros, de inovação, de segurança, de transporte, de participação no mercado mundial. Estamos atrasados, patinando e concorrendo num mundo de velocidade ímpar. E, portanto, sem saídas a não ser avançar, mesmo que apenas incrementalmente.
Contudo, divididos e sozinhos, nada faremos. É preciso aceitar o desafio de uma inserção competitiva corajosa, de fronteiras mais abertas a produtos e técnicos qualificados, acabar com esta discricionariedade no Judiciário que tanta insegurança produz, contar com um Congresso de partidos políticos que respeitem seus conteúdos programáticos e seus eleitores.
Governo e sociedade, ambos em seu sentido mais amplo, não estão operando seu melhor, longe disso. E, diante do que temos no país e no mundo, qualquer coisa menos ousada do que este melhor será a explicação da história ruim que este potente Brasil terá a mostrar no futuro próximo. Não há tempo para desânimo, mas ainda menos para platitudes.
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