Escolha é “ideológica” e poderá ser usada para motivar mudanças no resultado do último Censo, opina o economista
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Indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o economista Marcio Pochmann tem um histórico de declarações polêmicas. Crítico ferrenho da digitalização empregada pelo Banco Central, o qual diz estar seguindo um “receituário neoliberal”, Pochmann apresentou um estudo em 2009, enquanto presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que apontava que a produtividade do setor público crescia mais do que a do setor privado. Também já defendeu a redução da carga de horário dos trabalhadores. Figura histórica ligada ao PT, tendo presidido o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo, seu nome é considerado ideológico por liberais.
A postura de Pochmann, inclusive, é vista como problemática na visão do ex-presidente da entidade, Edmar Bacha, economista que participou da criação do Plano Real. Em entrevista a VEJA, Bacha cita exemplos de intervencionismos que a gestão de Pochmann poderá fazer à frente do órgão. “Os resultados preliminares do Censo mostraram uma queda da população dos estados e municípios que votaram predominantemente no PT, e um aumento da população dos estados e municípios que votaram predominantemente no Jair Bolsonaro. Uma das discricionariedades de que o presidente do IBGE dispõe é a de ordenar recontagens de municípios que por uma razão ou outra batem na porta dele solicitando recontagem desses números. Dada a experiência ideológica dele com o Ipea, creio que nós estamos com um risco muito grande de que haja recontagens que possam favorecer a população de municípios dominados pelo PT”, diz Bacha.
A recontagem é um instrumento utilizado por municípios e estados que regrediram no número de habitantes e, assim, foram impactados diretamente em relação aos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que é uma das principais fontes de custeio de muitas administrações municipais. “O presidente tem enorme discricionariedade, dada a limitação de verbas, em escolher quais recontagens ele vai fazer. E eu acho que sob a direção dele essas recontagens vão ser politicamente motivadas”, reforça Bacha.
A nomeação de Pochmann gerou um mal-estar na alta cúpula do governo. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que não foi consultada sobre sua escolha — ressalte-se que o IBGE é uma das principais entidades sob sua pasta. Para Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, a escolha não deve representar a “menor dificuldade” para a ministra. Bacha, por sua vez, critica a falta de pulso de Tebet sobre o tema. “Eu não entendo por que a Simone está tão alheia a esse assunto. É um assunto que deveria ser crítico para ela, inclusive para a reputação dela”, afirma.
Link da publicação: https://veja.abril.com.br/economia/os-riscos-envolvendo-indicacao-de-pochmann-ao-ibge
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