Iniciou em junho passado o fenômeno do El Niño, caracterizado por um aquecimento acima de 0,5 grau da temperatura observada em parte do Oceano Pacífico e afeta de forma distinta o regime climático no mundo.
Diário do Nordeste
O principal impacto climático para o Brasil tipicamente tem sido o aumento de chuvas no Sul e seca no Norte/Nordeste, afetando a produção agrícola e, consequentemente, o PIB. O efeito econômico líquido depende da intensidade do fenômeno e período de maior desvio de chuvas da normalidade.
De fato, o levantamento dos economistas do Itaú sobre as últimas sete ocorrências de El Niño mostra, de maneira geral, que não há um padrão claro de seu impacto.
O El Niño de 2015-16 foi a última ocorrência do fenômeno de intensidade forte. O seu efeito foi negativo para o PIB agro brasileiro, principalmente na produção de soja e milho nas regiões Norte de Nordeste.
O Nordeste representava 8% da produção nacional de soja em 2014-15, caindo para 5% na safra seguinte, resultado da queda de 37% de produção. Somente três estados nordestinos produziam soja: Bahia (maior produtor regional, com 52% de participação), Maranhão (26%) e Piauí (23%), onde, em conjunto com o Tocantins, se encontra a fronteira agrícola do Mapitoba.
A quebra foi mais intensa no Piauí, com redução de 65% da produção, seguido pelo Maranhão, -40%, e Bahia, -23%. A queda de participação do Nordeste na produção de milho do Brasil também foi similar, mas com a recuo de produção mais intensa, de 45%.
A produção de milho era presente em todos os estados da região, sendo Bahia também o líder (42% de participação), seguido pelo Maranhão (23%), Sergipe (14%) e Piauí (13%). As quebras nesses estados foram 48%, 40%, 79% e 31%, respectivamente.
Vale ressaltar que outras lavouras de menor relevância nacional, mas com importante peso regional também foram afetadas, como cacau (60% da produção nacional e queda de produção de quase 30% na região) e algodão (participação pré-El Niño de 31%, com quebra de 42%).
Para preços, observou-se um efeito inflacionário no Brasil, com aumento de preços majoritariamente de produtos in natura, mais sensíveis ao alto volume de chuvas. Felizmente, é esperado um El Niño de intensidade moderado a forte neste ano, sendo menos intenso que o observado em 2015-16.
Para a safra deste ano, o efeito para soja e milho pode ser mais intenso no Brasil, com aumento de participação do Norte e Nordeste no cultivo. A participação dessas regiões no total da soja produzida está atualmente próxima de 16% e 20% para milho. Como o El Niño impacta negativamente as chuvas nessa porção do país, é natural que haja alguma perda de produtividade.
O impacto líquido no país como um todo dependerá do quão maior a produção na região Sul será, o que, por sua vez, também dependerá da intensidade das chuvas ao longo dos períodos de plantio e cultivo das safras.
Levando esses fatores em consideração, os economistas do Itaú no momento projetam que o ritmo de crescimento real do PIB Agropecuário deve desacelerar para 2,5% em 2024, após forte alta de 12,3% em 2023, com alta de 3,0% na produção de soja e queda de 2,5% no milho.
No entanto, com um El Niño de intensidade similar ao de 2015-16, o PIB Agro pode recuar até 1,3%, afetando indiretamente o impulso para outros setores, tanto via cadeia produtiva, quanto via renda gerada na economia. Já para inflação, como a produção de frutas, tubérculos e hortaliças está concentrada no Sul e Sudeste, onde é esperada maior precipitação, o viés é de alta de +0,1 p.p. para o IPCA de 2023.
O Banco Mundial destaca que algumas políticas públicas podem mitigar perdas relacionadas ao El Niño, como a introdução de variedades de culturas tolerantes à seca, expansão da irrigação, restrição das exportações, melhora de armazenamento e distribuição de safras afetadas e com importante consumo local.
Link da publicação: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/opiniao/colunistas/mario-mesquita/como-o-el-nino-impacta-a-economia-do-nordeste-entenda-1.3398928
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