Artigos

Avanços permitiram o corte dos juros

O novo arcabouço e a reforma tributária foram dois grandes avanços para o País em pouco tempo

Estadão

Após três anos, o Copom reduziu a taxa de juros em 0,5 ponto porcentual, de 13,75% para 13,25% ao ano. A redução é coerente com o estado atual da economia brasileira. A magnitude – de 0,25 ou 0,5 ponto – é discutível, tanto que foi tema de divergência, como mostra o placar de 5 a 4. Muitos dirão que a pressão feita pelo governo e pelo Congresso sobre o presidente do Banco Central surtiu efeito. O falatório é normal, em especial pela divisão de opinião entre os diretores. Mas, sem as novas condições da economia, o Copom não poderia reduzir os juros.

Nos últimos dois meses, governo e Congresso encaminharam um novo arcabouço fiscal (falta apenas uma segunda votação na Câmara), em substituição ao teto de gastos, e conseguiram fazer a reforma tributária percorrer metade do caminho necessário para entrar em vigor. Foram dois grandes avanços para o País em pouco tempo.

Tenho enfatizado aqui os efeitos positivos da mudança no sistema tributário para o resultado das empresas e para a atração de investimentos. Não é coincidência que duas agências de rating elevaram a classificação do Brasil recentemente (infelizmente, ainda estamos longe de voltar ao “investment grade” perdido em 2015…), o que é um reconhecimento importante por tudo que foi feito.

Esse conjunto de medidas fez as expectativas de inflação caírem. Expectativas cumprem um papel fundamental na economia: se os agentes esperam inflação menor, pensam duas vezes antes de aumentar preços. No momento, todo o mercado – e aqui não digo apenas o financeiro, mas todo o setor produtivo – enxerga um horizonte mais estável para os preços. Esse cenário abriu espaço para o Copom reduzir os juros, sem risco de perder o controle no processo de trazer a inflação de volta à meta no longo prazo.

O Copom é uma instância técnica, onde os diretores de um Banco Central independente analisam dados técnicos para tomar decisões. O recente avanço do País na área fiscal criou condições para o corte nos juros e levou o Copom a declarar, no comunicado após a decisão, que novos cortes da mesma magnitude devem vir nas próximas reuniões.

Em resumo, o falatório fez barulho político, mas nada teria acontecido sem mudanças no cenário econômico. Está provado que o caminho mais eficiente é usar a política para aprovar reformas no Estado, para melhorar as contas públicas, reduzir gastos e criar melhores condições para investimentos no Brasil, como é o caso do modelo da reforma tributária. É por essa via, mais difícil, que são criadas as condições para a queda da inflação e de um cenário propício a juros menores, investimentos e crescimento.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/henrique-meirelles/coluna-henrique-meirelles-corte-juros-reformas/

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Henrique Meirelles