Estadão
Nos últimos dias assistimos a mais um episódio de “ajuste dos mercados” à realidade da inflação e da política monetária nos EUA. Dados indicando um mercado de trabalho ainda aquecido afetaram as estimativas sobre a intensidade da restrição monetária praticada pelo Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), provocando a elevação para 4,8% ao ano da taxa das treasuries de dez anos, a mais alta em 17 anos.
Aos poucos, o mercado financeiro vem incorporando a informação de que a política fiscal expansionista do governo Biden, que ao que tudo indica não deverá se alterar, elevou a taxa real de juros de equilíbrio – a chamada “taxa neutra” de juros. Ainda que o Fed não produza novas elevações da taxa dos fed funds, terá que mantê-la alta por mais tempo.
A reação ocorrida nos EUA gerou efeitos instantâneos no Brasil, quer deslocando para cima toda a curva de juros nominais, quer depreciando o real acima de R$ 5,20/US$. Embora não haja uma ligação mecânica entre as taxas neutras de juros no Brasil e nos EUA, como a estabilização do real em relação ao dólar depende do diferencial de taxas de juros entre os dois países, uma taxa real de juros de equilíbrio mais alta nos EUA obriga o Brasil a encerrar o ciclo de queda da Selic em uma taxa de juros também mais alta.
O fator predominante na depreciação recente do real é o fortalecimento do dólar, que tende a continuar, o que ao lado de nossa taxa neutra mais elevada, devido à expansão fiscal, limita a intensidade da queda da Selic. Movimentos fortes por parte do Fed têm reflexos no Brasil.
Quando em 2020, em reação à pandemia, o Fed derrubou a taxa dos fed funds e comprou US$ 4,5 trilhões de treasuries, também derrubou as taxas das treasuries de 2 a 30 anos, provocando um enfraquecimento do dólar, o que levou à valorização da maioria das moedas de países avançados e emergentes.
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