Há alguns meses, quando o Banco Central (BC) iniciou o ciclo de corte de juros, o mercado passou a discutir a possibilidade de acelerar o ritmo dessa queda, tendo em vista a expectativa de melhora do cenário local, principalmente, a inflação corrente, quase monotonamente surpreendendo para baixo.
De lá para cá, observamos que, de fato, o ambiente interno tem dado sinais que vem se acumulando na direção para um aumento do ritmo de corte.
Embora o número do próximo ano esteja sujeito a riscos altistas atrelados à intensidade do fenômeno El Nino e aos movimentos do petróleo, as expectativas de inflação estão praticamente ancoradas e dentro do intervalo da meta de inflação.
Para 2024, encontram-se ao redor de 3,8% e para os anos subsequentes estão estáveis em 3,5% desde o mês de julho.
O alívio nas expectativas de inflação faz com que continuemos no topo da lista em termos de taxa de juros real.
Olhando a taxa real ex-ante de um ano, ou seja, os juros de hoje a um ano descontado da inflação esperada nos próximos 12 meses, temos um porcentual próximo de 7,0%.
É um patamar ainda bastante elevado e distante do juro real neutro de 4,5%, proferido pelo BC.
Além disso, importante mencionar também o fato do BC trabalhar com perspectiva de hiato em território negativo e tem colocado em todos os seus últimos comunicados que teremos desaceleração da atividade esperada nos próximos trimestres à frente.
Esses indícios positivos estão indo na direção de um corte mais acelerado. No entanto, o ambiente externo tem se mostrado significativamente mais desafiador para as economias emergentes o qual, nas palavras do BC, “tornam a barra muito alta para aumentar o ritmo de redução da Selic”.
O Federal Reserve (Fed) já deu claros sinais de que manterá a taxa de juros elevada por mais tempo. O famoso discurso de “higher for longer”. Sendo que a expectativa para o primeiro corte é apenas no segundo semestre do ano que vem.
Lembrando que poderíamos ver altas adicionais nos juros não fosse o forte aperto das condições financeiras que mostraram movimento mais intenso no mês de setembro. De intensidade equivalente a duas altas de 25 pontos base.
O aperto das condições financeiras nos Estados Unidos está bastante ligado à robusta elevação da taxa dos títulos de 10 anos, que, por sua vez, tem refletido em três pontos: primeiro, o comportamento mais resiliente da atividade econômica, com resquícios de aquecimento no mercado de trabalho e revisões no montante de poupança excessiva; segundo, a preocupação com o déficit fiscal (próximo de 6% do PIB) e crescente endividamento da economia (por volta de 120% do PIB) perante à necessidade de emissão de dívida longa; terceiro, o próprio processo de quantitativo tightening, onde o Fed também é vendedor de títulos.
Ou seja, apesar dos fatores internos nos levarem para uma possível aceleração da queda de juros pelo BC, quando olhamos o ambiente externo, ele recomenda, no mínimo, cautela no processo de afrouxamento.
Estes fatores com vetores em direção contrária associados à mudança de mais duas cadeiras no Copom sugerem um BC, pelo menos, por enquanto, mais conservador.
Este artigo tem a coautoria do economista da Jive Investments, Luan Takada, e foi publicado no BroadCast da Agência Estado (AE News).
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