Fernando Henrique foi uma exceção, um presidente fora da curva em um continente marcado por populistas à direita e à esquerda; como ele, não tivemos mais
Estadão
Neste 1.º de março temos que celebrar os 30 anos da URV. Nossa moeda vai entrando na fase balzaquiana. Essas comemorações me trazem dois sentimentos; o orgulho de ter participado de um governo que acabou com a hiperinflação e a nostalgia de um presidente que foi um verdadeiro estadista. Quanto mais o tempo passa, mais tenho certeza de que FHC na Presidência foi uma exceção, um presidente fora da curva em um continente marcado por populistas à direita e à esquerda. Como ele, não tivemos mais. Devemos a Itamar a esperteza de o ter convidado. Fernando Henrique foi seu quarto ministro. Saiu das Relações Exteriores para Fazenda. Bons tempos de Itamaraty.
A saudade é acentuada a cada dia. Passamos por um impeachment, escândalos de corrupção e um presidente golpista. Em 2022, o maior objetivo – o meu certamente – era buscar uma terceira via e, não sendo possível, impedir a reeleição de Bolsonaro. Quis a sociedade colocar Lula no segundo turno. Muitos não votaram nele, mas sim contra seu adversário. Ele prefere acreditar que ganhou sozinho, apostando na polarização.
Nada de novo para quem sempre governou dividindo. Já em 2003 introduziu o “nós contra eles” e a mentira da “herança maldita”. Nunca reconheceu que o fim da inflação tornou possível políticas de transferência de renda. O sucesso do Plano Real lhe era insuportável.
A disputa de hoje é diferente. O suicídio tucano mudou a polarização; sai a social-democracia e entra a direita contra a esquerda. Ao escolher governar sozinho, arrisca a perder a pequena margem que lhe deu a vitória. Cada passo que Lula dá com políticas direcionadas ao seu cercadinho, consolida a rejeição de quase metade da população a ele. O mesmo que aconteceu com Bolsonaro. Ambos jogam com a polarização e o desprezo de Lula à frente ampla não ajuda.
A política externa é um exemplo; a maioria da população é contra. O Brasil trocou a liderança na pauta ambiental, vocação natural do Brasil, pelo aprofundamento de alianças com autocracias, como no Brics e na Venezuela e no indesculpável apoio a Putin, no que não se difere de Bolsonaro.
A ideologia anti-imperialista de Amorim chega a ser infantil.
Na guerra entre Israel e Hamas, Lula atacou Netanyahu comparando-o a Hitler, evocando o Holocausto. Uma fala desastrosa sob qualquer perspectivas. Seja Ernesto Araújo, seja Celso Amorim, vamos continuar párias, ao menos, para as democracias liberais. Saudades do FHC.
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