O professor Affonso Pastore nos legou dois livros preciosos: “Erros do Passado e Soluções para o Futuro” e “Caminhos e Descaminhos da Estabilização”
Paulo Paiva
O Tempo
O professor Affonso Pastore nos legou dois livros que condensam sua autobiografia profissional: “Erros do Passado e Soluções para o Futuro”, publicado em 2021, e “Caminhos e Descaminhos da Estabilização”, publicado após sua prematura morte, ocorrida em fevereiro deste ano.
No primeiro livro, Pastore revisitou alguns temas aos quais havia dedicado seus últimos 50 anos, como pesquisador e como participante ativo dos debates sobre política econômica. Já na sua introdução, Affonso revelou os três princípios que sempre o acompanharam: (i) respeito à ciência que é a possibilidade de submeter uma ideia à sua validade pelo confronto com os fatos; (ii) não se progride nesse intento sem o domínio da teoria econômica, que é um organismo em contínua evolução, que nos impõe um esforço contínuo de aprendizado; e, por fim, (iii) total compromisso na busca de soluções para os problemas econômicos enfrentados pelo Brasil.
Esses princípios orientaram também seu último livro, “Caminhos e Descaminhos da Estabilização”, divulgado nesta semana, no Centro de Debates em Políticas Públicas (CDPP), em São Paulo, em evento que lhe prestou homenagem póstuma.
Nessa nova obra, Pastore analisa como chegamos, em 1999, ao atual regime de política macroeconômica sustentada pela política monetária organizada no regime de metas de inflação e de câmbio flutuante e de política fiscal que gere superávits primários suficientes para manter a sustentabilidade da relação entre dívida pública e PIB.
Em cinco capítulos, Affonso examina as duas experiências de âncora cambial, a primeira, a partir da adoção do regime de câmbio fixo, com a adesão do Brasil ao acordo de Bretton Woods (1946), e a segunda, na primeira fase do Plano Real (1994-1999); o período sem âncora cambial; detalha a consolidação do regime do “tripé da política macroeconômica”; traz à luz a crise financeira global de 2008 e a crise fiscal na Europa; avalia a mudança de rumo a partir dos governos do PT e os limites das políticas fiscal e monetária após a pandemia.
No epílogo, nos alerta sobre os efeitos do jogo não cooperativo entre duas autoridades independentes – a monetária e a fiscal, em que a autoridade fiscal impõe à autoridade monetária o comportamento a ser seguindo (dominância fiscal). Pastore deixa para a autoridade monetária uma advertência: “os banqueiros centrais não têm que ser apenas politicamente independentes, com plena liberdade de manejar a taxa de juros, mas devem ser independentes do mercado, sendo que esta propriedade não é facilmente atingida”; e para as autoridades fiscais, uma pergunta: “Será que o governo dará ao Banco Central a liberdade de cumprir seu mandato ou exigirá que siga o caminho de Dilma Rousseff, pressionando por taxas de juros mais baixas?”
As ideias do mestre Pastore ficam para fertilizar o bom debate.
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.