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‘Faria mais rápido’, diz economista-chefe do Itaú sobre iniciar aperto monetário com alta maior da Selic

Mario Mesquita observa que desancoragem das expectativas de inflação acontece em um contexto de mercado de trabalho apertado e câmbio pressionado

Valor

Se estivesse sentado em uma cadeira do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central neste momento e tivesse de optar por reiniciar um ciclo de alta da Selic na reunião da próxima semana, Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, diz que o “faria mais rápido”, no sentido de dar uma alta maior em um primeiro momento.

“Se vai ser mais curto ou não vai, vai respondendo ao longo do processo. Mas eu não estou lá”, afirmou Mesquita em encontro com jornalistas nesta quarta-feira.

Mesquita, que já foi diretor de política econômica do BC, disse que a intenção da autoridade monetária não é colocar a economia em um processo recessivo, mas “dar uma freada”, já que a desancoragem das expectativas de inflação incomoda.

As projeções de inflação à frente estão “desancorando e decolando”, afirmou Mesquita. “Acho que isso deve estar preocupando o BC também”, disse.

“Vemos um BC que realmente se aproxima de um ciclo de aperto [monetário]”, afirmou o economista-chefe, sem antecipar eventuais mudanças no cenário-base do Itaú, que, atualmente, ainda contempla estabilidade da Selic em 10,5%.

“O risco, claramente, é de elevação da taxa de juros. A própria retórica do BC aponta nessa direção”, disse. “Tem sim, chance razoável, de eles terem de elevar a taxa de juros em um futuro não muito distante”, afirmou.

Mesquita observou que a desancoragem das expectativas de inflação acontece em um contexto de mercado de trabalho apertado e câmbio pressionado. Se o câmbio estivesse em R$ 5,30, R$ 5,40 por dólar, ou até R$ 5,50, aponta, o BC até poderia não mexer na Selic. “Mas, com o câmbio mais pressionado, a economia mais aquecida – e a surpresa com o PIB [do segundo trimestre], talvez, seja uma evidência disso -, a vida do BC fica mais difícil e ele perde graus de liberdade”, afirma.

Mesquita tem a avaliação de que o BC pode, inclusive, rever sua estimativa para o hiato do produto (medida para a ociosidade da economia), que estaria positivo (indicando uma economia sem ociosidade).

Para Mesquita, mesmo o início de um processo de corte de juros por parte do Federal Reserve (o Fed, banco central dos Estados Unidos) no mesmo dia da reunião do Copom não deve ser capaz de “resolver sozinho” o problema da desancoragem das expectativas no Brasil e, portanto, evitar por completo uma alta da Selic. “Até acho que pode levar o BC, se, eventualmente, ele subir juros, a pelo menos no início ir num caminho mais gradual”, afirmou.

Se o Fed cortar os juros e o BC elevar a Selic, é possível que o câmbio se aprecie um pouco, notou Mesquita. “A variável que ajusta é o câmbio”, afirmou.

O Itaú projeta três cortes de 0,25 ponto percentual pelo Fed neste ano e mais cinco no ano que vem.

A desaceleração do mercado de trabalho nos EUA fez o Fed mudar seu foco da inflação para o emprego, observou Mesquita. “Nos EUA, a inflação permite corte de juros, ainda que não em ritmo agressivo, pelo menos não inicialmente”, disse.

Segundo Mesquita, o corte de juros por parte do Fed a partir da semana que vem deve impactar a economia americana mais para o fim de 2025 e início de 2026.

Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2024/09/11/faria-mais-rpido-diz-economista-chefe-do-ita-sobre-iniciar-aperto-monetrio-com-alta-maior-da-selic.ghtml

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