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Está na hora de o Brasil passar à idade adulta

Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski

A esta altura da corrida eleitoral há muito pouco o que fazer. As campanhas municipais estiveram novamente embaladas pela polarização, abrindo espaço à deselegância, à falta de propostas e ao descompromisso com os eleitores, quando não com a democracia. Dela sairão melhores ou piores vencedores, e a matéria-prima para as análises sociopolíticas dos próximos meses.

Excetuando as surpresas que sempre ocorrem, estamos na semana das esperanças quase perdidas e do autoengano que as sustenta por um fio. E alguma expectativa de que o voto útil avalizado pelo medo não substitua a coragem pelo que se acredita como o melhor. Jogo jogado em poucos dias. Vem, contudo, pela frente o desafio mais brutal de cada quatro anos, as eleições de 2026.

O Brasil — que anda longe de se explicar apenas nas taxas, nos números e nos ratings internacionais — está melhor e está pior. Melhor diante do que passou em governo recente, pior no que poderia alcançar diante de oportunidades recorrentemente confirmadas e, em boa medida, perdidas.

O ano de 2026 deverá ser aquele em que a sociedade, cada vez mais complexa e irritada, fará a avaliação mais rigorosa e crítica das últimas décadas. Se o presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito pela economia e o presidente Lula pela esperança, o próximo residente do Planalto será eleito pela capacidade de apaziguar ânimos, transmitir serenidade, mas firmeza, alinhar as diferenças e jogar o jogo certo com o Congresso. Jogo não de soma zero, mas de resultados e percepção clara de seu papel de condutor a um futuro breve de renda per capita maior e mais bem distribuída, de ambiente de negócios juridicamente confiável e globalmente competitivo, de compromisso claro com a sustentabilidade e o longo prazo.

Há tempo para o atual incumbente se fazer escolhido pelas razões corretas, assim como para outras lideranças surgirem, colocando na mesa o valor da alternância. Independentemente de quem for, nosso papel de cidadão a partir de agora será ajudar na escolha daqueles que representam propostas claras e inteligíveis, escorvadas do teatro da fanfarronice e do populismo e da sobrevalorização do carisma.

O Brasil passou por muita coisa para chegar aonde chegou. Está atrasado e corre risco de consolidar sua permanência no batalhão dos medianos. Há muita coisa errada, muitos malfeitos, muita complacência. Nossos potenciais não merecem essa derrota.

Dois anos antes, tratemos de elencar os problemas, desenhar opções de soluções, debater e escutar aqueles que se disponham ao desafio. Sem perda de tempo, com agenda e profundidade, com cobrança e transparência.

Dizem que programa não ganha eleição. Entretanto está na hora de o país migrar para um modelo de compromissos claros, sem tombar para promessas vãs e palanques de manipulação. Aspirações compartilhadas caracterizam as sociedades prósperas. Tempo de enfrentar e avançar nos temas de meio ambiente, contas públicas, ciência e tecnologia, educação, saúde, diversidade, inserção global, segurança, logística e tantos outros. Adotando objetivos com começo, meio e fim, curto, médio e longo prazos.

Tempos de mais tolerância com o que merece mais tolerância e de intolerância com o intolerável. De história, de foco, de mais respeito pelos três Poderes à Constituição, de reflexão quanto às fragilidades dela mesma, de participação diligente da sociedade, de ética, entendimento, disciplina e resultados. Está na hora de o Brasil passar à idade adulta, enfrentar seus erros e defeitos, defender uma visão clara, longa e inclusiva.

Está na hora de o Brasil, em respeito a seus imensos ativos e inúmeras qualidades, se tornar um país.

Link da publicação: https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2024/10/esta-na-hora-de-o-brasil-passar-a-idade-adulta.ghtml

As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.


Sobre o autor

Pedro Passos