Folha
Tudo sugere que a vida do novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (assume o cargo no início de 2015), não será fácil. Na sexta-feira (8), houve a divulgação da taxa de inflação de outubro.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, fechou o mês em 0,56%. A inflação acumulada em 12 meses fechou em 4,8%, acima do teto da banda de 1,5 ponto percentual, para mais ou menos, em torno da meta de 3%.
Eleva-se o risco de que o ano feche com inflação acima de 5%.
Houve, nos últimos meses, forte choque de energia e alimentos. Em outubro, alimentos semielaborados, categoria que inclui as carnes, subiu 3,1%. Em 12 meses, o item apresentou inflação de 11,1%!
De fato, há sinais de que está ocorrendo repasse da desvalorização do câmbio do atacado para o varejo.
Segundo o FGV Ibre, o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) de outubro fechou em 1,9%, acelerando com relação ao 0,7% observado em setembro. Nos 12 meses terminados em outubro, a inflação no atacado já roda a 5,9%.
Quando olhamos no atacado, o preço dos bens finais, somente em outubro, foi de 1,4%. Ou seja, os choques nas matérias-primas estão subindo na cadeia produtiva. No mercado se diz que o IPCA está “grávido” do IPA.
Mas nem tudo é choque na aceleração recente da inflação. Há sinais de que começa a haver pressões do mercado de trabalho no índice.
A inflação de serviços, para o índice que exclui passagens aéreas, rodou a 0,57% em outubro. Nos últimos 12 meses, serviços que excluem passagens aéreas registraram 5,1%.
Os serviços subjacentes, índice criado pelo BC que acompanha mais de perto o ciclo econômico, têm se elevado e fechou outubro a 5,3% na leitura acumulada em 12 meses, após um mínimo, em junho, de 4,4%.
Finalmente, o núcleo de médias aparadas (também construído para acompanhar de perto o ciclo econômico), para a leitura acumulada em 12 meses, após mínimo em maio, de 4,1%, fechou outubro a 4,5%.
Ou seja, apesar de choques estarem pressionando muito a inflação nos últimos dois meses, a dinâmica dos preços vai muito além deles. A inflação de serviços e os núcleos, que acompanham mais de perto o ciclo econômico, isto é, se elevam se houver pleno emprego e o contrário se houver ociosidade, são um avião que está decolando.
Quando os choques reverterem —choque sempre reverte—, é possível que descubramos, no primeiro semestre de 2025, que os serviços estão rodando a 6%, o que indicará, se nada for feito, inflação cheia em 2026 de 6%.
Reagindo a esses movimentos, o Banco Central acelerou o passo na elevação da taxa básica de juros. Decidiu aumentar a Selic em 0,5 ponto percentual —na reunião anterior, a elevação havia sido de 0,25 ponto—, de 10,75%, para 11,25%. Tudo sugere que o ciclo levará a taxa Selic para patamares acima de 12%.
Lula começou o terceiro mandato elevando muito o gasto público. O discurso de herança maldita na política fiscal, que teria sido deixada por Paulo Guedes, visão da qual sempre discordei, foi usado de pretexto para que se elevasse o gasto público em dois pontos percentuais do PIB.
Agora, no meio do mandato, ainda a dois anos da próxima eleição, Lula enfrenta uma economia a plena carga, que sofre choques de preços e com serviços decolando.
Chegar bem em 2026 ficou mais difícil.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2024/11/a-inflacao-volta-a-preocupar.shtml
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