Economista assume a elaboração de análises econômicas da consultoria que passará a se chamar Pinotti & Schwartsman Associados a partir de 2025
Estadão
Quando Affonso Celso Pastore morreu, em fevereiro, Maria Cristina Pinotti, sua esposa e sócia na consultoria econômica que levava o sobrenome do ex-presidente do Banco Central viu-se diante da seguinte decisão: fechar a empresa ou convidar alguém para assumir a elaboração das análises econômicas. Se a decisão fosse a segunda — como foi — ela sabia imediatamente quem chamar. Alexandre Schwartsman, segundo ela, segue a linha de Pastore, especialmente quanto ao rigor na análise de dados e à independência.
“A escolha da minha parte era óbvia. Menos de uma semana depois de o Affonso ir, eu falei com o Alex. O risco que eu tinha era ele não aceitar”, conta Pinotti, economista e estudiosa do fenômeno da corrupção. “Pela história dele, pela formação, pela experiência que teve na vida, de ter passado pelo Banco Central, mercado, pela independência, maneira de olhar para o mundo, era uma escolha óbvia”, diz.
Schwartsman também diz ter sido fácil, para ele, concordar com a proposta. “A primeira coisa que me passou pela cabeça foi a lembrança de uma crônica, anos atrás, quando o Luiz Fernando Veríssimo começou a escrever para a Veja. Ele terminava assim: ‘como eu vou substituir o Millôr?’. O Pastore sempre foi um modelo para mim, eu vi como uma honra enorme. E eu confesso que eu aceitei assustado”, diz o ex-diretor do Banco Central.
Na virada para 2025, a consultoria passará a se chamar Pinotti & Schwartsman Associados.
“A grande verdade é que isso me trouxe de volta para o jogo. Eu tinha lá a minha consultoria, pequena, poucos clientes, e de repente eu estou em uma consultoria que fala com todo mundo, atende todo mundo. Tem sido um negócio ótimo. Eu venho feliz trabalhar”, conta Schwartsman.
Um dos economistas mais renomados do País, Pastore morreu aos 84 anos, após décadas de contribuição para o debate público e a implementação de políticas econômicas no Brasil. Era conhecido por seu rigor com a análise de dados. Na área acadêmica, formou uma geração de economistas. Após deixar a carreira no setor público, ele fundou, em 1993 a consultoria A. C. Pastore & Associados.
A relação de Schwartsman com Maria Cristina Pinotti e com Pastore era próxima. O ex-BC era consultor de parte das instituições onde Schwartsman trabalhou e os dois já haviam se cruzado profissionalmente algumas vezes. Ele passou pelos bancos Santander, Real ABN AMRO, Unibanco, BBA e IndoSuez.
Foi quando Schwartsman resolveu se aventurar em consultoria, no entanto, que o contato se intensificou. Aos 48 anos, ao sair do Santander, Schwartsman decidiu que não queria mais trabalhar no mercado financeiro. “Há muito conflito com essa coisa de que eu quero falar aquilo que eu acho, eu não preciso estar certo, mas eu preciso falar o que eu acho”, conta o economista. Sem experiência em consultoria, ele buscou conselhos de Pastore e de Pinotti. “Me deram todo o caminho das pedras”, diz. Ele também passou a ser convidado para eventos organizados pela consultoria de Pastore e os dois trocavam materiais de trabalho.
“Sempre tivemos muito respeito, tanto eu como o Affonso, pelo trabalho dele, que era o mais próximo que considerávamos do nosso. Sempre gostamos muito dele”, diz Pinotti sobre Schwartsman, que foi diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil e é doutor em Economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley).
Refundação
Em espaço físico, a consultoria mudou de andar, no mesmo prédio que ocupa no Jardim América, para um local menor. Em clientes, no entanto, eles contam que têm crescido. A equipe é composta por cinco pessoas. “Temos uma história. Clientes que estão conosco há 30 anos, uma equipe treinada, uma metodologia de análise. Achei que valia a pena tentar, e está funcionando”, diz Maria Cristina Pinotti.
Segundo ela, “não é uma questão de replicar o Affonso”. “É refundar, repensar a consultoria. Coisa que qualquer consultoria que se preze tem de fazer de tempos em tempos, à medida que o mundo muda”, afirma a economista.
“Hoje em dia você precisa entender certas dinâmicas globais, certas dinâmicas regionais, o nível de exigência cresceu muito, inclusive porque a qualificação dos clientes cresceu uma barbaridade”, diz Schwartsman, sobre as novas demandas dos clientes.
Cenário econômico doméstico e mundial
Sobre o cenário econômico internacional, Alexandre Schwartsman diz que a eleição do Trump traz desafios consideráveis para o mundo. “Até agora havia uma perspectiva de certa acomodação, depois de várias turbulências, pandemia, saída complicada da pandemia, inflação alta, juros. Começamos a ver um tanto de clareza, inflação começa a cair, vemos Fed reduzindo juros, e de repente entra o elemento que perturba essa história, que é a eleição do Trump”, afirma o consultor.
“O processo de globalização já vinha se desmontando”, diz o economista. Segundo ele, é um mundo que ficará mais hostil do ponto de vista econômico.
A partir do momento que o mundo passa a ser mais exigente com os emergentes, quem está se comportando melhor, vai ter um desempenho muito melhor. Para colocar na frase histórica do Warren Buffett: ‘quando a maré baixa, descobrimos quem está nadando pelado’. E o Brasil está nadando pelado”, avalia o economista.
Maria Cristina Pinotti diz ver, no Brasil, “falta de vontade política de mexer onde tem de ser mexido, que é o fiscal”.
“A dívida é alta, ponto. Não adianta querer enfeitar e dizer que não é. Quem está no governo quer gastar, porque acha que o gasto leva ao crescimento contínuo. Onde a gente bate? Você bate no muro de uma inflação mais alta, de depois uma recessão para poder trazer a inflação para baixo”, afirma a economista.
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