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O ano de 2024 trouxe lições importantes sobre a relação entre expectativas, gestão fiscal e coordenação econômica. Após um final de 2023 marcado por otimismo cauteloso, especialmente pela leitura benigna do déficit causado pelos precatórios, o início de 2024 parecia indicar um bom caminho. A arrecadação forte em janeiro trouxe otimismo ao mercado, com a sensação de que o governo poderia navegar bem pelas dificuldades fiscais.
Já em fevereiro, a arrecadação começou a decepcionar. Em vez de ajustar os gastos, o governo optou por ampliar a meta de déficit fiscal, desencadeando um processo de deterioração que se aprofundaria ao longo do ano. Essa decisão inicial foi um prenúncio das dificuldades que viriam.
O governo enfrentou resistência do Congresso em relação ao aumento de tributos. Propostas para elevação da carga tributária foram sistematicamente rejeitadas, enquanto a administração federal manteve sua relutância em cortar despesas. Esse descompasso entre receitas e gastos reforçou a percepção de fragilidade fiscal, elevando o risco-País e pressionando os mercados. A falta de coordenação entre Executivo e Legislativo tornou a gestão fiscal ainda mais desafiadora, ampliando a incerteza e a deterioração das expectativas.
Em maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) enfrentou um teste crítico. Uma decisão dividida, com diretores recém-nomeados defendendo uma abordagem mais leniente, gerou uma piora significativa nas expectativas do mercado. A curva de juros disparou, e a credibilidade do Banco Central foi colocada em xeque.
No entanto, a liderança de Gabriel Galípolo, que assumiria a presidência do Banco Central posteriormente, marcou uma virada. Galípolo adotou uma postura mais dura e coesa, contribuindo para recuperar parte da confiança no BC e estabilizar parcialmente as expectativas. Ainda assim, a falta de um ajuste fiscal robusto limitou os efeitos positivos dessas ações.
Quando finalmente anunciado, o aguardado pacote fiscal foi uma decepção. O atraso no anúncio criou um vácuo de confiança, e o conteúdo final frustrou ainda mais. Além de ser menor do que o necessário, o pacote incluiu a isenção de Imposto de Renda para rendas até R$ 5.000, compensada por um “imposto mínimo” sobre os mais ricos. A reação dos mercados foi imediata e severa: o dólar disparou para R$ 6,30, a curva de juros ultrapassou 15,5% ao ano, e sinais de desorganização financeira começaram a surgir.
A ação coordenada pelo Banco Central para estabilizar o câmbio e os mercados de dívida pública, junto à intervenção do Tesouro Nacional, conseguiu conter o pânico. No entanto, essas medidas emergenciais ampliaram a percepção negativa sobre a condução da política econômica. Embora o governo tenha demorado a agir, a promessa de medidas de ajuste fiscal para 2025 indica uma tentativa de recuperar a confiança perdida.
Com o encerramento de 2024, as perspectivas para 2025 estão no lado mais sombrio. No melhor dos cenários, 2025 será tão ruim quanto 2024, com medidas paliativas tentando remediar a deterioração das expectativas e buscar o déficit zero. O governo deve recorrer a ajustes fiscais pontuais e ao aumento de receitas, mas sem atacar os problemas estruturais que corroem a confiança no país. Se ações mais contundentes forem adiadas novamente, a pressão sobre os mercados e a economia poderá levar o País a um quadro de estagnação econômica, com juros altos, câmbio pressionado e a perda de espaço para políticas de estímulo.
A lição de 2024 é clara: não há espaço para procrastinação fiscal. O governo precisa agir de forma coordenada e decisiva, com políticas que reequilibrem as contas públicas e restaurem a credibilidade. O desafio para 2025 será resgatar a confiança perdida, mas isso só será possível com um compromisso real com a responsabilidade fiscal e a coordenação entre política monetária e fiscal. O tempo da piora gradual está se esgotando, e as escolhas de 2025 determinarão o rumo do País nos próximos anos.
*Este artigo tem a coautoria de Italo Faviano economista da Buysidebrasil
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