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Desde 2023, a economia brasileira segue em um ritmo de crescimento acima do seu potencial,
surpreendendo até os analistas mais otimistas. Sustentada por uma combinação de impulsos fiscais, parafiscais e um mercado de crédito robusto, a atividade econômica desafiou as condições adversas de juros altos e incertezas globais. No entanto, a realidade de 2025 aponta para uma mudança significativa nesse cenário.
A expectativa para este ano é de um resfriamento da economia, marcado por um crescimento mais tímido do PIB. Essa desaceleração, ao contrário de soar como um alerta, deve ser entendida como um ajuste saudável, necessário para conter os desequilíbrios acumulados durante anos de superaquecimento.
Nos últimos dois anos, o Brasil cresceu de forma surpreendente, muito acima do seu PIB potencial – estimado em torno de 2% a 2,5% ao ano. Esse desempenho foi ancorado em um conjunto de medidas expansionistas que injetaram recursos na economia, alimentando principalmente o consumo e a absorção interna do produto. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho apresentou resultados robustos, com níveis de desemprego historicamente baixos e crescimento da massa salarial.
Outros fatores que contribuíram para o vigor econômico foram o crédito e as emissões de dívida de longo prazo das empresas que se mantiveram em expansão mesmo em um ambiente de Selic em níveis restritivos. Esse contexto gerou uma atividade econômica pujante e, por consequência, uma inflação de serviços que resistiu ao aperto monetário.
O carrego estatístico do PIB – a inércia de crescimento trazida de um ano para o outro – chega em 2025 em torno de 1%. É um ponto de partida elevado, mas insuficiente para manter o ritmo de expansão frente às mudanças nas condições econômicas que já se manifestam.
A dinâmica econômica deste ano será definida por uma combinação de fatores que pressionam para baixo o crescimento. O primeiro deles é o fim dos impulsos fiscais e parafiscais. Sem novos estímulos significativos, a economia perde uma de suas principais alavancas.
Paralelamente, o Banco Central segue determinado a cumprir seu compromisso com a meta de inflação. Desde novembro de 2024, a confiança dos agentes econômicos vem caindo, segundo as principais pesquisas setoriais. Esse recuo reflete tanto a percepção de condições financeiras mais restritivas quanto as dúvidas sobre o impacto futuro da política monetária.
Com uma Selic precificada em torno de 15% e as expectativas de inflação ainda desancoradas, o ambiente de crédito tende a se contrair ao longo de 2025. Nesse cenário, a confiança do consumidor e do investidor deve se manter contida, contribuindo para o arrefecimento da atividade econômica.
A composição do PIB em 2025 deve mostrar mudanças importantes. Os setores mais cíclicos, como indústria e serviços, serão os mais afetados pela política monetária restritiva. A redução da demanda interna e do crédito deve impactar diretamente esses segmentos, que são altamente sensíveis às condições financeiras.
No entanto, o agronegócio, que continua sendo um motor importante da economia brasileira, pode oferecer algum alívio no primeiro semestre. Com uma safra agrícola forte prevista, o agro deve sustentar números expressivos na primeira metade do ano. Já no segundo semestre, os efeitos restritivos da política monetária devem prevalecer, trazendo uma desaceleração mais forte na atividade.
No lado da demanda, espera-se um impacto maior no consumo das famílias, que já sofre com a corrosão do poder de compra e o aumento dos custos financeiros. Por outro lado, os investimentos podem apresentar alguma resiliência, dependendo da confiança empresarial e das condições externas, como o fluxo de capital estrangeiro.
O desempenho econômico deste ano dependerá de um balanço delicado entre fatores altistas e baixistas.
No lado positivo, um carrego estatístico mais elevado e uma safra agrícola ainda mais robusta poderiam sustentar um crescimento acima das projeções de mercado. Além disso, uma eventual melhora na confiança dos agentes econômicos – seja por avanços no quadro fiscal ou pela sinalização de estabilidade nos juros – também poderia aliviar parte das pressões negativas.
No entanto, o viés baixista parece prevalecer. Juros reais elevados e expectativas inflacionárias ainda desancoradas sugerem condições financeiras mais restritivas ao longo do ano. Se a Selic for ajustada para cima, o impacto na atividade econômica pode ser ainda mais significativo, puxando o crescimento para baixo.
Embora a desaceleração econômica seja inevitável, ela não deve ser vista como algo alarmante. Pelo contrário, é um reflexo natural de um processo de ajuste macroeconômico necessário. A política monetária, mesmo severa, está cumprindo seu papel de conter os excessos e evitar desequilíbrios maiores no futuro.
O crescimento acima do potencial observado nos últimos anos trouxe consigo riscos de superaquecimento e inflação persistente, especialmente no setor de serviços. A desaceleração de 2025, portanto, é um sinal de que os mecanismos de controle estão funcionando, trazendo a economia para um patamar mais sustentável.
Um cenário que não pode ser descartado é o de uma real deterioração a partir de uma política fiscal frouxa. Caso o governo não faça minimamente um esforço para melhorar o quadro fiscal, podemos ter uma piora substancial da confiança e uma adicional depreciação cambial e dos ativos brasileiros levando a uma maior desaceleração e a uma recessão econômica.
O grande desafio agora é encontrar o equilíbrio ideal entre crescimento e controle inflacionário, considerando uma política fiscal mais razoável. A tarefa não é simples, mas é essencial para garantir bases sólidas para o futuro da economia brasileira. Afinal, é melhor desacelerar agora, de forma controlada, do que enfrentar os custos de um ajuste abrupto mais adiante.
*Este artigo tem a coautoria de Italo Faviano economista da Buysidebrasil
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.