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A imigração é boa para o Brasil

Além da diversidade cultural que nos proporcionam, muitos deles preenchem lacunas no mercado de trabalho e no empreendedorismo

Horacio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski

Folha

Imigração é hoje um assunto polêmico, que tem enorme peso na pauta eleitoral de muitos países. É importante para nações majoritariamente receptoras de imigrantes —como os Estados Unidos, a Turquia, a Austrália, o Reino Unido e a Alemanha— e para aquelas dos quais as pessoas emigram, como a Índia, o México, a Síria, a Ucrânia e a Venezuela.

O Brasil, neste capítulo, tem sido tanto um receptor histórico como um exportador de pessoas. Ainda assim, a percentagem de residentes no país que aqui não nasceram é hoje pequena, próxima de 1%, índice semelhante ao do México. Nos Estados Unidos, 14,5% dos residentes não nasceram no país; no Canadá, a cifra é 22%; e, na Austrália, 29,5%.

Contamos com cerca de 2 milhões de estrangeiros residentes, enquanto 4,5 milhões de brasileiros vivem no exterior.

A importância econômica dos imigrantes é conhecida. Metade das empresas americanas do Fortune 500 foi fundada por eles ou por seus filhos. Mais da metade dos unicórnios americanos tem ao menos um imigrante em seu grupo de fundadores. Entre os prêmios Nobel acadêmicos (química, física, economia e medicina) concedidos a residentes nos Estados Unidos de 2010 a 2024, 39% são para não nascidos no país.

A imigração representou uma das bases de construção do Brasil. Desde o período colonial, povos de diversas origens foram importantes para o desenvolvimento econômico nacional e moldaram a cultura brasileira, com contribuições na literatura, nas ciências e nas artes, trazendo suas crenças, suas habilidades, sua culinária e sua forma de enxergar o mundo.

Nossa diversidade cultural muito deve aos imigrantes que o país acolheu. Em muitos casos preenchem lacunas no mercado de trabalho, assumindo funções para as quais os locais não têm preparo ou interesse em exercer. Setores essenciais como a construção civil, a agricultura e os serviços são aqueles aos quais, imediatamente após a sua chegada, muitos deles se dedicam. Mais tarde tornam-se empreendedores, ampliando a sua presença na economia local.

A ideia de que imigrantes cometem mais crimes do que os nascidos localmente é um mito. Acadêmicos americanos e europeus são conclusivos em afirmar que não há relação entre imigração e criminalidade. Os pesquisadores indicam que nas áreas em que entram mais imigrantes os crimes violentos tendem a diminuir.

O Brasil acolheu, no período entre as duas guerras mundiais, grandes contingentes de europeus, que se integraram perfeitamente à sociedade local. Estes vieram para o país visando progredir em um ambiente pacífico, com expectativa de desenvolvimento profissional; todos chegaram com a determinação de vencer através do trabalho. Vieram com o propósito de transformar suas vidas e o futuro das novas gerações contribuindo para a modernização e o crescimento do nosso país.

Há componentes emocionais nos imigrantes que um país como o Brasil, forjado na miscigenação, ajuda a atenuar. Nota-se que muitos deles aqui sentem-se bem e anseiam por se estabelecer e trazer seus familiares. Diferentemente de outros países desenvolvidos, onde o que lhes interessa é obter recursos para uma vida mais digna e o retorno, quando possível, ao lar original —por aqui, o enraizamento é regra geral.

Hoje o Brasil recebe gente de países em guerra, em crise econômica ou ambiental. Faz muito bem em fazê-lo e em dar-lhes, na chegada, condições de educação, habitação, documentação e trabalho. Mas é verdade também que o país não tem a mesma atratividade de antes, e é evidente que estamos perdendo a oportunidade de contar com a força transformadora que caracteriza o imigrante.

A pergunta que resta é: por quê? Burocracia, insegurança, horizonte nebuloso, percepção de não ser mais aqui a nação do futuro? Não seria isso mais um desperdício para um país que precisa crescer rápido? Não merecem esses contingentes de imigrantes voltar a serem considerados pelo Brasil como parte da solução e não um problema?

Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/02/a-imigracao-e-boa-para-o-brasil.shtml

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Sobre o autor

Pedro Passos