Para Mario Mesquita, é um autoengano achar que Brasil terá taxas de juros civilizadas, em linha com as de outros países, com a atual política fiscal
Estadão
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, disse nesta terça-feira, 18, que o governo precisa resgatar o regime de teto de gastos, que impedia aumento de despesas públicas superiores à inflação, se quiser combater a alta de preços com juros de apenas um dígito.
“O Brasil já tentou vários regimes fiscais. O único que permitiu ao Banco Central buscar a meta de inflação com taxas de juros mais baixas foi o teto de gastos (…). Achar que vamos ter taxas civilizadas, em linha com as de outros países, com a política fiscal que o Brasil tem tido é autoengano”, afirmou Mesquita durante apresentação à imprensa do cenário do banco.
“Se o governo quer que o Banco Central persiga a meta da inflação com taxas mais próximas de outros países, teria que voltar ao regime de teto de gastos”, acrescentou Mesquita, que já foi diretor de Política Econômica do BC.
Menos rigoroso do que a regra do teto, implementada no governo Michel Temer, o arcabouço fiscal limita hoje a expansão dos gastos a 2,5% acima da inflação. Segundo os economistas do Itaú, é possível voltar à regra do teto sem cortar programas sociais voltados a brasileiros que, de fato, dependem de transferência de renda.
O especialista em contas públicas do banco, Pedro Schneider, mencionou os reajustes dos servidores públicos e estatais dependentes do Tesouro que entregam retorno baixo à sociedade entre as frentes que poderiam ser atacadas. Voltar ao regime de teto, defendeu, traria benefícios à população inteira, com juros e inflação mais baixos. As previsões do Itaú apontam para déficits primários de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) tanto em 2025 quanto em 2026.
Benefícios da guerra comercial
O economista-chefe do Itaú Unibanco avaliou que os benefícios que o Brasil pode obter em uma nova guerra comercial deflagrada pelas tarifas de Donald Trump devem ser menores do que no primeiro mandato do republicano.
De 2018 a 2020, a primeira guerra comercial de Trump, lembrou Mesquita, beneficiou o Brasil pela troca de produtos agrícolas americanos, principalmente a soja, no mercado chinês. Agora, comparou, o Brasil já tem uma fatia de mercado elevada nas exportações de soja à China, de modo que o espaço para crescimento diminuiu.
Além disso, desta vez, o Brasil também pode ser alvo de tarifas mais amplas de Trump, que ameaça aplicar o princípio de reciprocidade contra os países que cobram tarifas altas nas importações de produtos americanos. Haverá negociação, mas o economista entende que o mais provável, hoje, é os Estados Unidos subirem as tarifas, considerando que o Brasil não deve baixar o imposto cobrado na entrada de produtos dos Estados Unidos, em especial o etanol.
“O benefício, se tiver, será menor”, afirmou Mesquita durante a apresentação do cenário do banco à imprensa. Para o economista, a impressão é que as políticas de Trump migraram do “America First” (EUA em primeiro lugar) para o “America Only” (ou seja, apenas os Estados Unidos), o que fragiliza a narrativa de investimentos fora do país, seja em economias próximas, movimento conhecido como nearshoring, ou em países aliados (friendshoring) das nações desenvolvidas do Ocidente.
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