Agora, com a leitura do PIB abaixo do esperado, há indícios de que a economia pode estar finalmente respondendo aos estímulos convencionais da política monetária
InfoMoney
A divulgação do PIB do quarto trimestre de 2024 trouxe um dado relevante para a economia brasileira: a atividade veio abaixo do esperado, reforçando um movimento de desaceleração que já vinha sendo observada através de outros indicadores desde o fim do ano passado. Desde dezembro, os indicadores econômicos de novembro já sinalizavam um arrefecimento gradual, especialmente no setor de serviços e no consumo das famílias. Essa tendência, agora confirmada pelo PIB, sugere que a política monetária restritiva pode, enfim, estar surtindo o efeito desejado.
Ao longo de 2024, o Banco Central conduziu um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos da história recente, elevando os juros reais para patamares historicamente bastante altos e sinalizando que continuará aumentando a taxa ao longo do primeiro semestre de 2025. O objetivo era claro: conter a inflação através da moderação da atividade econômica. No entanto, os impactos demoraram a aparecer. Durante boa parte do ano, o mercado de trabalho permaneceu resiliente, o consumo seguiu forte e a arrecadação do governo bateu recordes, refletindo uma economia que, apesar dos juros elevados, continuava crescendo acima do esperado.
Esse cenário vinha desafiando a teoria sobre a eficácia da política monetária, levantando questionamentos sobre a possibilidade de que o Brasil estivesse em um quadro de dominância fiscal. Quando o estímulo fiscal e os incentivos ao crédito impedem que os juros tenham o impacto esperado na economia, o Banco Central se vê obrigado a manter ou até mesmo intensificar o aperto monetário. Esta incompatibilidade de políticas gera vários efeitos colaterais, tais como a piora das expectativas, desvalorização cambial e maior volatilidade nos mercados. Foi exatamente isso que ocorreu no final de 2024, quando a forte depreciação do real forçou o Banco Central a intervir no câmbio, utilizando um volume nunca feito neste regime, de parte das reservas internacionais para conter a escalada da moeda.
Agora, com a leitura do PIB abaixo do esperado, há indícios de que a economia pode estar finalmente respondendo aos estímulos convencionais da política monetária. O enfraquecimento da atividade não aconteceu de forma abrupta, mas sim como um processo gradual que começou a ganhar força no último trimestre do ano passado. O consumo das famílias, um dos principais motores do crescimento ao longo de 2024, começou a desacelerar diante da alta dos juros e da redução do crédito disponível. O investimento produtivo também perdeu fôlego, com empresas adiando projetos de expansão devido ao custo elevado do capital.
O setor de serviços, que foi um dos pilares da resiliência econômica no ano passado, também começou a sentir os efeitos do aperto monetário, especialmente nos segmentos mais sensíveis ao crédito. Ao mesmo tempo, a arrecadação do governo, que vinha crescendo a taxas elevadas, começou a perder tração, o que não deixa de ser mais um sinal de desaceleração além de poder dificultar a estratégia fiscal para 2025. Embora o déficit fiscal de 2024 tenha ficado abaixo do esperado, muito disso se deu por conta da arrecadação excepcional impulsionada pelo forte crescimento da atividade, um cenário que parece que não irá se repetir caso a desaceleração econômica se intensifique.
Diante desse novo quadro, a grande questão agora é como o governo reagirá a esse resfriamento da economia. O ano de 2026 já começa a influenciar as decisões políticas, e o governo enfrenta um dilema clássico: permitir que a economia siga desacelerando de forma controlada ou intervir para estimular o crescimento. Historicamente, períodos de desaceleração em anos pré-eleitorais costumam levar a medidas expansionistas, seja via ampliação de crédito público, aumento dos gastos governamentais ou flexibilização da política fiscal. Se esse caminho for seguido, a tendência de queda da inflação ficará comprometida, o que prolongaria o período de juros altos e dificultaria o trabalho do Banco Central.
Os próximos meses serão cruciais para definir o rumo da economia brasileira. Se a política monetária continuar operando sem interferências e a desaceleração seguir seu curso natural, o Banco Central poderá, em algum momento, considerar um ajuste na taxa de juros. No entanto, se medidas expansionistas forem adotadas para conter o impacto da desaceleração sobre o emprego e a popularidade do governo, a política monetária poderá ser forçada a permanecer restritiva por um período ainda mais longo ou até ser reestabelecido um novo processo de aperto monetário.
O PIB mais fraco do quarto trimestre pode ser o primeiro sinal concreto de que o ciclo de aperto monetário começou a surtir efeito. Mas a dúvida que permanece é se o governo permitirá que essa trajetória continue ou se buscará reverter essa tendência antes que a corrida eleitoral de 2026 ganhe tração.
Como o último episódio de “ajuste” fiscal, dezembro passado, mostrou que os agentes econômicos estão muito sensíveis e com uma paciência limitada, por isso a pergunta que fica é: “Como o governo enfrentará as turbulências que estão por vir, dada a péssima capacidade de manobra?”
Este artigo teve a co-autoria de Italo Faviano economista da BuysideBrasil
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