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A cada enxadada, uma minhoca

Não há debates nem transparência nas decisões do ministro, e consumidor residencial parece ser a última prioridade dele

Estadão

Os olhos do mundo estão voltados para Trump. Sua metralhadora giratória não dá descanso; da supressão de direitos e liberdades individuais à guerra comercial, a todo minuto uma novidade.

Para alívio de muita gente, os problemas da Terra Brasilis foram para segundo plano. E não são poucos: julgamento de Bolsonaro e projeto de anistia. Pesquisas de (im)popularidade e reação de Lula. Correios derretendo e dando calotes. Senado e STF na briga das emendas. Crime organizado e PEC da Segurança, e até a mediocridade da seleção, CBF e arbitragem.

Mas optei por desenterrar a atuação do Ministério de Minas e Energia e o desmonte do setor elétrico. No comando, um ministro que acha que entende do assunto, sem qualquer credencial, apenas sua influência no xadrez político de Minas Gerais.

Sem sua oposição, lobbies estenderam subsídios indevidos às renováveis, tornando a transição energética cara e regressiva.

O confronto com reguladores foi permanente. A Aneel ficou sem diretores por meses. A transferência de controle da Amazonas Energia foi feita sem licitação, ignorando a recomendação da agência pela caducidade da concessão. Uma operação até hoje paralisada por previsíveis brigas judiciais e políticas.

A negociação do acordo para Itaipu gerou desvantagem para o Brasil, mantendo tarifas elevadas, apesar da quitação da dívida de construção da usina; Paraguai saiu ganhando. Gastos ditos socioambientais explodiram. Consumidores não são sua prioridade. Populista, diz que vai compensar aumentos nas contas de luz com dinheiro público, sem mexer em distorções injustas.

O voluntarismo do ministro Alexandre Silveira dá o tom no MME. Não há diálogo. Em julho de 2023, prometeu: “A reformulação do setor elétrico deve ser entregue nos próximos 90 dias”. Ou na semana que vem. Quem sabe?

P.S.: Em1995, o Banco Central liquidou os bancos Econômico e Nacional. Um tinha como padrinho Antônio Carlos Magalhães, o mais poderoso político do País; e a filha do controlador do Nacional era nora do presidente. Depois disso, o Bamerindus, controlado por um aliado político de primeira hora do FHC, sofreu intervenção. Bancos com bem mais relevância que o Master. Os administradores ficaram com os bens indisponíveis. E o BC nem era independente. Difícil entender a atual dificuldade do BC em liquidar o Master. Será que vai repetir o péssimo exemplo da operação de salvamento do Panamericano orquestrada pela Caixa? 2010 era ano eleitoral, e Silvio Santos saiu impune. Erro sistêmico é deixar de punir controladores imprudentes.

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Elena Landau