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É brega

Representação do Brasil em eventos no exterior está sempre entre as mais numerosas; parece até que nos salários da elite do funcionalismo não cabem férias no exterior pagas do próprio bolso

Estadão

Congresso Nacional parou nesta semana para uma pauta urgentíssima: decidir a origem do gênero musical brega. Pará e Pernambuco brigam pelo título. Há poucas semanas, foi a vez do lobby do Perse. A Associação de Promotores de Eventos teve acesso ao plenário para levar suas reivindicações. Deram festa e tudo: trouxeram o cantor Leonardo para ilustrar a importância dos subsídios. Gostei, mostrou ao País a hipocrisia do movimento.

As elites estão dissociadas das expectativas da população. E não é só o Legislativo. No Judiciário, benefícios extras ao teto constitucional são criados com frequência e crescem as restrições a críticas de jornalistas e parlamentares, ferindo a liberdade de expressão. No ExecutivoLula decreta sigilo para 16 milhões de documentos públicos, que incluem acordos envolvendo mais de R$ 600 bilhões. Está qualificado para firmar acordo de cooperação com China: vem expertise em controle de redes e vai ajuda para esconder informações públicas. A primeira-dama declara: “Nenhum protocolo vai me calar”. Isso já sabemos. Em seguida, recebeu do marido a mais alta condecoração por mérito cultural.

A toda hora surge uma viagem internacional dos nossos representantes dos Três Poderes. Por coincidência, só em circuito Elizabeth Arden. Os eventos em universidades americanas, com brasileiros para brasileiros, se multiplicam. Entrar por esse Brasil adentro não rola, afinal a agenda está cheia.

A capital do Brasil virou itinerante e negociações são feitas no avião presidencial. Só não se sabe a pauta.

A esquizofrenia entre a nossa realidade e a imagem de líderes passeando para seminários e conferências, que poderiam ter sido realizadas aqui, está cansando a sociedade.

Enquanto sessões virtuais para assuntos importantíssimos se multiplicam – no Congresso e no Judiciário –, a presença física em Roma, Lisboa, NY e Madri parece ser essencial. A representação do Brasil está sempre entre as mais numerosas. A imagem no velório do papa Francisco é simbólica.

Parece até que nos salários da elite do funcionalismo não cabem férias no exterior pagas do próprio bolso. Todos defendem ajuste fiscal, mas no quintal do vizinho. Cada Poder tem seu orçamento; se sobrou, gastam mais com eles mesmos. Mas tudo vem do mesmo lugar; imposto e dívida. Não há qualquer solidariedade com as necessidades da população.

Semana passada, vários governadores foram a NY para divulgar seus Estados na Brazil Week. Perguntei a um investidor amigo se ele iria. Foi rápido na resposta: “Para falar com brasileiros, eu fico por aqui mesmo”.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/elena-landau/sessoes-virtuais-crescem-brasil/

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Elena Landau