Entrevistas

IOF é ‘aula de psicologia’ de como governo do PT pensa sobre os mais ricos, diz Stuhlberger

Para o CEO e CIO da Verde Asset, a ideia de criar uma cunha na conta de capital – que deu errado em todos os países – leva o Brasil ser um pouco mais parecido com iniciativas usadas pela Argentina no passado

Valor

A imposição de um imposto maior sobre operações financeiras (IOF) para cartões, câmbio, aportes em planos de previdência VGBL a partir de R$ 50 mil e remessas de recursos para o exterior pelo governo é um sinal de “perigo”, ao mesmo tempo “assustador”, além de uma “aula de psicologia gratuita” de como o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pensa sobre os mais ricos, segundo Luis Stuhlberger, sócio e executivo-chefe e de investimentos (CEO e CIO) da Verde Asset Management.

Nas iniciativas, há uma clara inclinação a controle de capitais, penalizando a alta renda para continuar subsidiando as classes menos privilegiadas.

“O que ele pensa é: ‘vamos distribuir dinheiro, vamos aumentar a arrecadação, não importa que seja de uma maneira unfair [injusta]’, mas o que é mais assustador é a questão do dólar. ‘Você quer comprar dólar? Paga um pedaço para mim’… É muito ‘scary’ [assustador], porque na minha opinião isso deveria aumentar na sua precificação o ‘tail risk’ [risco de cauda] negativo do PT”, afirmou Stuhlberger nesta quinta-feira, em evento anual da Verde. “Se ele ganhar [a próxima eleição], o que esperar no futuro com gastos crescentes?”

Para o gestor, a ideia de criar uma cunha na conta de capital — que deu errado em todos os países e leva o Brasil a ser um pouco mais parecido com iniciativas usadas pela Argentina no passado — passa a mensagem: “Vocês ricos fiquem com seus reais, não têm que comprar dólar, se quiserem comprar paguem para mim um pedágio. É muito assustador.”

O outro lado negativo da medida, “mal calculado pelo governo, é que isso é terrível para a pequena e média empresa. O aumento dos custos dos empréstimos é imenso”, prosseguiu Stuhlberger.

Com o tema chegando à discussão no Congresso, Stuhlberger acha que vai ser um teste para a atuação da centro-direita, se vai bloquear um imposto que em tese tem fins regulatórios para ser arrecadatório.

“A verdade é que o Congresso nunca serviu de barreira para nada”, afirmou. “Só aumentou o preço do centrão, que vai cobrar do governo — porque o governo espertamente está dizendo, ‘tá bom, se eu tirar isso aqui eu vou cortar suas emendas’. Então, nós vamos estar entre o Congresso pressionado, obviamente, pela pequena empresa, pela associação de classe, a que ele é sensível, é possível.”

Stuhlberger afirmou que bem que gostaria que os parlamentares derrubassem o IOF, mas daí o Brasil enfrentaria outro problema do lado das contas públicas. Sem um adicional de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões de receitas, “voltamos a ter um problema fiscal, e o governo não pode cortar gastos, ainda quer crescer. Então é ruim com ele [IOF] e pior sem ele”, comentou. “Sou muito descrente do nosso Congresso servir de anteparo para alguma coisa, mas a gente deveria levar em conta essa ameaça como algo sério, do que esperar de um novo governo do PT, se ele ganhar.”

Para Stuhlberger, a medida do IOF pode ter relação com uma carta na manga que o governo Lula está guardando para 2026: o possível ajuste do Bolsa Família. Ao mesmo tempo, luta para tirar os precatórios do arcabouço fiscal, abrindo assim mais R$ 50 bilhões em despesas para aplicar em pleno ano eleitoral.

Se no fim de 2024 o fiscal desafiador, com tendência de piora no Brasil, e o “Trump trade” é que vinham ditando a dinâmica dos ativos brasileiros, neste ano há algumas forças que estão contribuindo para a performance positiva, disse Stuhlberger.

O fluxo de capital se deslocando para fora dos Estados Unidos tem favorecido os emergentes e, ao mesmo tempo, a queda da popularidade do governo Lula tem feito alguns investidores anteciparem uma eventual alternância de poder no Planalto a partir da eleição de 2026 — a tese Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo.

No Brasil, um mercado de capitais relativamente pequeno, US$ 20 bilhões de investimento estrangeiro na bolsa já fizeram a diferença, afirmou o gestor. “Nós estamos falando de US$ 3, 4, 5 bilhões vindo para cá, já serve para dar uma porrada na bolsa. A gente é um nadinha, é pequeno, qualquer dinheiro que vem para cá é muito favorável”, afirmou. “E o trend da eleição chegou, chegou antes do que se imaginava”, disse Stuhlberger.

Quando se excluem do Ibovespa as ações de companhias ligadas à cadeia de commodities, do começo de outubro para cá — antes, portanto, do estresse com Brasil na virada do ano ou a confusão com a sanha tarifária de Trump nos EUA — desde a primeira pesquisa do Datafolha, que mostrou Lula embicando para baixo —, o índice já subiu 17%. E neste ano avança 35% “É uma porrada enorme, é difícil de imaginar que não tenha um pouco de trade de eleição no preço disso.”

Se considerar o Ibovespa como um todo, a valorização se limitou a 6%, por causa do desempenho desastroso do fim do ano, não pagou nem o CDI, ponderou o gestor.

Já a taxa de câmbio, que partiu de R$ 5,45 e foi para R$ 6,20 no fim de 2024, forçando o Banco Central a intervir com cerca de US$ 30 bilhões, voltou para um certo equilíbrio entre R$ 5,65, R$ 5,70. O pior comportamento foi do juro nominal de 10 anos, que saiu de 12,20% e hoje está perto de 14%. Um pouco em linha com o desempenho dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) de 10 anos.

Para Stuhlberger, não é à toa que as estratégias com prefixados melhoraram. Mas, no geral, a performance dos ativos locais não foi muito diferente da observada em outros emergentes.

A força negativa continua sendo o fiscal, num momento “em que o governo tem popularidade baixa, está acuado, querendo fazer medidas mais populistas como se viu agora”, disse Stuhlberger, referindo-se à majoração do IOF. “E quanto mais perto da eleição, isso piora.”

Para os EUA, Stuhlberger vê um risco de inflação combinado com certa desaceleração da economia. Ele lembrou que a China é o fornecedor mais barato para quase 30% dos produtos importados para o país. Mesmo que conseguisse substituir parte dos itens da pauta de exportação do país asiático, haveria ainda um aumento de preços da ordem de 11%.

Outro componente que não ajuda a conter preços, disse Stuhlberger, é a abordagem dos imigrantes na fronteira. Entre 2011 e 2020, o padrão era de 50 mil em média por dia, subiu para 200 mil durante o governo de Joe Biden e agora caiu para 8 mil. “De fato a fronteira fechou. Não tem mais entrada para compensação salarial que vinha caindo trimestre a trimestre. Os EUA precisam de mão de obra barata que aceita ganhar menos.”

O gestor acredita que assim como errou durante a pandemia de covid-19, o mercado americano vai falhar de novo em prever pressões inflacionárias. “O mercado acha que o choque das tarifas não vai se espalhar e que a fraqueza da economia vai manter a inflação comportada. Eu discordo.”

Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/05/29/iof-aula-de-psicologia-de-como-governo-do-pt-pensa-sobre-os-mais-ricos-diz-stuhlberger.ghtml

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